domingo, 27 de setembro de 2009

Tá tudo errado!

Hoje eu vou falar aqui de uma situação criminosa que vem ocorrendo em nosso planeta. Apesar de ser proibido o tráfico, a possessão ainda não é crime e por isso incentiva (e torna mais ricos) os seus traficantes. Na sociedade existe a idéia de que isso já é uma prática antiga da humanidade e que sua completa abolição seria impossível. Estou falando do tráfico de....escravos, mas como estamos em 2009 e tráfico de escravos não existe mais (apesar de ainda haver escravidão), na verdade estou falando do tráfico de drogas.

Em minha aula de inglês ontem nós lemos um texto sobre uma ação policial na Dinamarca, em que acharam um homem, aparentemente drogado, na rua e o levaram para casa. O título do artigo exaltava a gentileza da polícia daquele país. Nada de mais não, já que o cidadão não cometeu nenhum crime, estava apenas dormindo. Mas aquilo suscitou um pensamento em mim: usar drogas é crime? Esta é a atual política tomada pelas autoridades ao redor do mundo, afinal de contas o viciado é um doente e precisa de tratamento, não de cadeia, além disso, ele só prejudicou a ele mesmo, será?.

Agora vamos voltar ao tráfico de escravos. Antes de continuar, quero deixar bem claro que não estou fazendo comparações no tráfico de drogas com o de escravos, é óbvia a diferença, já que o de escravos trata seres humanos como mercadorias, mas em sua essência a situação é a mesma: algo proibido que dá muito lucro. Dentro do sistema capitalista, o traficante de escravos estava fazendo o que o capital lhe pedia: atendendo uma necessidade, uma demanda. O tráfico de escravos só acabou no momento em que ter uma pessoa como escravo se tornou algo desprezível e nojento, como ele de fato é, antes disso, enquanto existissem pessoas dispostas a comprar escravos haveria traficantes.

Voltemos a 2009 e ao tráfico de drogas. A questão permanece: usar drogas é crime? Como falei anteriormente, há uma certa convenção em não considerar o usuário um criminoso, já que o que faz prejudica a ele mesmo. Então vamos recapitular: usar drogas não é crime, mas traficar é. Percebem o paradoxo e a semelhança com a escravidão? Se de fato o viciado só prejudica a si próprio, por que o negócio de drogas é ilegal? Por que o Estado decide que eu posso usar mas não posso lucrar com isso? Não vivemos em mundo capitalista afinal de contas?

A verdade é que, no fundo, todos sabem que um viciado não prejudica só a vida dele, mas de todos ao seu redor e, em uma análise mais profunda, toda a sociedade. Pense um pouco, em uma país como o Brasil, com sistema público de saúde, quem você acha que vai pagar a maioria das internações pelas doenças ocasionadas pelo vício do cidadão? Seremos nós, com nossos impostos. Quando o viciado compra a droga, ele na verdade está "assinando" um contrato virtual com o traficante no qual concorda com tudo o que ele fez para conseguir aquela mercadoria apenas para satisfazer o vício de uma pessoa. Corrupção, tráfico de armas, violência, mortes, comprometimento de campos com a plantação de ópio, maconha e coca ao invés de alimentos ou até mesmo destruindo o meio ambiente, exploração de trabalho infantil, tudo isso é o que esta pessoa, que só prejudica a si próprio, comete com a sociedade.

Você pode pensar agora "então vamos liberar e todos estes problemas irão acabar magicamente", não todos. Drogas prejudicam a saúde humana, independente se são legais ou não. A liberação criaria outro paradoxo: por que liberar algo para depois gastar milhões com propagandas dizendo para as pessoas não usarem (caso do cigarro)? Sem contar que os problemas de roubo para sustentar o vício continuarão existindo, já que esta droga não seria de graça, além do próprio tráfico continuar existindo, já que drogas legais seriam mais caras.

Quanto á saúde muitos podem argumentar que álcool, cigarro, açúcar, gordura e outros tipos de substâncias legais fazem mal a saúde, mas aí há uma grande diferença. Com exceção do cigarro (que deveria sim ser proibido) todas as outras substâncias tem alguma utilidade para o organismo, inclusive o álcool, que, segundo pesquisas, em pequenas doses faz bem ao organismo. E de certo que quando você vai ao médico e suas taxas de colesterol, gordura ou diabetes está alta ele irá recomendar que você diminua a ingestão de certos alimentos, quando que se você disser que usa drogas ele dirá para parar imediatamente, já que isso só faz mal a saúde e não traz nenhum benefício. Alguém pode erguer a mão e dizer "mas a maconha tem substâncias anti-cancerígenas", sim, pesquisas apontam para isso, mas ao queimá-la para contrair sua fumaça nenhuma destas substâncias sobra, e só doenças serão deixadas pela planta ao seu usuário.

Se liberação não resolve os problemas, o que resolve? Para quem espera que eu digue "punição para usuários" me desculpe, mas não direi. Acho sim que a política atual é falha e que os usuários, respondendo a questão, são sim criminosos, comprar drogas deveria ser crime e não ser legal (em todos os sentidos), punido com severidade, mas não sou nenhum ingênuo a ponto de achar que isso resolverá o problema. Cadeia deveria servir para recuperar o cidadão, mas a verdade é que isso não ocorre na vida real. As drogas só deixarão de fazer parte do cotidiano humano no momento em que usar drogas seja visto como algo desprezível e nojento (assim como ter escravos), fazendo com que não haja usuários e consequentemente não haja tráfico.

Muitos dizem que viciados são doentes. Essa é a desculpa mais imbecil que eu já vi para não punir estes criminosos. Um alcoólatra é uma pessoa doente. Eu bebo álcool, no entanto, eu não necessito do álcool. Já as drogas são, pelo seu próprio composto químico, viciantes, então quando você experimenta, é claro que ficará viciado, ao contrário do álcool, em que você só ficará se tiver a doença. A decisão de tomar a primeira dose é de inteira responsabilidade da pessoa, ninguém obriga ninguém a usar drogas, aliás, elas são até proibidas e só quem quiser consumir, ou estiver pensando nisso é que vai achá-las. A única doença que estas pessoas tem talvez seja falta de personalidade e/ou amor próprio. É claro que o vício não desaparece da noite para o dia, que é necessário tratamento para isso, mas dizer que é doente, por favor, isso é uma ofença aos doentes. Tratamento sim, mas juntamente com uma punição.

Existem "n" motivos para alguma pessoa usar drogas, mas geralmente é para fugir momentaneamente de uma situação complicada ou para "relaxar". Conheço pelo menos uma mil maneiras diferentes de fazer isso sem usar nenhuma droga, mas fazer o que, para algumas pessoas criar e pensar é algo difícil e que exige algo que eles não costumam usar: a razão.

Enfim, o uso de drogas pelos seres humanos só mostra quão patética e sem graça que é nossa raça, que pelos motivos mais imbecis e sem sentidos, usa algo que irá apenas prejudicar a si próprio, seus familiares e em menor escala (mas irá) a toda a sociedade. O filme "Tropa de Elite" fala muito bem sobre isso na fala do personagem Matias que diz "vocês não tem noção de quantas crianças morrem só para vocês fumarem um bagzinho" (não sei se é assim mesmo a fala, mas é por aí).

A conclusão é que tratar o drogado como um doente é ridículo, já passou da hora de não se tolerar mais esse comportamento e fazer com que as futuras gerações vejam isso como um comportamento sem sentido e asqueroso, para que assim tenhamos uma esperança de extirpar este mal da sociedade, mas tratar viciados como doentes, isso sim é que não faz sentido.

Talvez o que melhor exemplefique isso seja um episódio do seriado norte-americano Family Guy em que o personagem Chris Griffin chega a uma clínica de recuperação, vê as piscinas, campos de tênis, belas instalações e diz "Uau! Então é por isso que as pessoas se drogam!". Afinal de contas, usar drogas é legal.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Me dá um financiamento aí...

Universidades e Governo Federal oferecem programas de financiamento para estudantes

Quem não conseguiu passar no vestibular de uma universidade pública e não tem dinheiro para pagar a mensalidade de uma universidade particular tem outros meios para conseguir o ingresso no ensino superior. Além de programas governamentais, como o Programa Universidade para Todos (ProUni) e o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), as três universidades particulares de Curitiba também disponibilizam de programas de financiamentos próprios.

Criado em 2004, o ProUni é um dos programas mais procurados por estudantes que não têm condições de pagar as mensalidades. Isso porque ele oferece bolsas para alunos que freqüentaram o ensino médio em escola pública ou em escola particular com bolsa integral, e que tenham uma renda familiar de até um salário mínimo e meio. De acordo com o site do programa, desde sua criação até o primeiro semestre deste ano, foram beneficiados mais de 350 mil estudantes, sendo 270 mil com bolsas integrais. Além disso, o ProUni ainda tem a Bolsa Permanência, paga para o aluno que tenha escolhido fazer um curso de período integral.

Ainda em nível público, o Fies é o programa de financiamento que há mais tempo funciona, desde 1999. A taxa de juros varia entre 3,5% a 6,5% podendo-se financiar até 100% do valor da mensalidade. Para participar desse financiamento, o aluno deve primeiramente saber se sua instituição está credenciada no programa. Dependendo de como aconteça o financiamento, ele pode ficar até 13 anos pagando as mensalidades. No site www3.caixa.gov.br/fies, é possível fazer uma simulação de financiamento.

Se o estudante não se enquadrar em nenhuma das exigências dos programas federais, existem outras opções. Na Universidade Positivo (UP), existe o programa de financiamento estudantil FIR, na Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), o crédito universitário Pravaler e na Pontifícia Universidade Católica (PUCPR) há programas de bolsas e Fundo Solidário para financiamento. Se ainda assim o estudante não conseguir financiamento, ele tem como opção o Processo de Ocupação de Vagas Remanescentes (Provar), que não é um programa de financiamento, mas de reocupação de vagas da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Veja no box abaixo as opções existentes e suas condições.

ProUni

O que é: programa do Governo Federal que oferece bolsas de 25%, 50% e 100%.

Quem pode participar: alunos que tenham feito o ensino médio em escola pública ou em escola particular com bolsa integral, renda familiar de até um salário mínimo e meio por pessoas e ter feito o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no último ano. (Dependendo da nota do Enem, o aluno pode não participar)

Site: portal.mec.gov.br/prouni/

Fies

O que é: programa do Governo Federal que financia até 100% das mensalidades.

Quem pode participar: alunos que estejam matriculados em instituições de ensino superior particular que já não tenham outra bolsa de qualquer outro programa. O aluno não pode ter disciplinas trancadas

Site: portal.mec.gov.br/sesu/

FIR – UP

O que é: programa de financiamento da própria UP concedido para 250 alunos por ano. O estudante que participar pagará metade da mensalidade. Quem fizer um curso de quatro anos, por exemplo, e tiver o financiamento desde o começo do curso, ficarão oito anos pagando metade da mensalidade, sem juros.

Quem pode participar: alunos, ou futuros aluno da instituição, que provem insuficiência financeira através do imposto de renda e ofereçam avalista.

Site: www.up.edu.br

Fundo Solidário da PUCPR

O que é: programa que financia até 75% da mensalidade.

Quem pode participar: alunos da PUCPR que comprovem insuficiência financeira e tenham um fiador que possua imóvel quitado e renda em torno de duas vezes o valor da mensalidade.

Site:www.pucpr.br/ensino/siga/bolsas

Crédito Universitário Pravaler da UTP

O que é: programa que financia até 50% das mensalidades em até o dobro do tempo do curso

Quem pode participar: alunos ou futuros alunos da UTP

Site:www.utp.br/divulgacao/pravaler/

Estude e ganhe

Programas do governo federal concedem bolsas para desenvolvimento científico

Para quem já está no ensino superior, esta dica pode ser valiosa se quiser desenvolver um estudo. São as bolsas de estudo oferecidas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

As ofertas do CNPq são feitas em editais publicados no site. Além de oferecer bolsas no país, o conselho também trabalha com oferta de oportunidades de estudar no exterior em programas de cooperação para a ciência. Existem dois tipos de bolsas: as individuais e as por cotas. As bolsas individuais são solicitadas diretamente no CNPq, já as bolsas de cotas são oferecidas às instituições de ensino e pesquisa e são solicitadas nesses locais. Somente as bolsas individuais têm programas de estudos no Brasil e no exterior, mas ambas financiam mestrados, doutorados e programas de iniciação científica nas instituições.

Além das bolsas, o conselho também tem a modalidade de auxílio, da qual existem várias modalidades, como apoio ao pesquisador e à divulgação científica. O programa de auxílio também funciona por meio de editais publicados pelo próprio CNPq. Esses editais são financiados pelo próprio órgão ou pelo Ministério de Ciência e Tecnologia.

Já a Capes desempenha um papel de impulsionadora do acesso ao mestrado e ao doutorado, além de fazer uma avaliação desses cursos no país. A oferta de bolsas pode ser conferida no site do órgão. Há bolsas tanto no Brasil como no exterior. Além disso, a Capes trabalha como uma divulgadora da ciência produzida nos cursos, tendo inclusive um banco de teses que pode ser consultado em seu site. Com a ajuda de um orçamento de mais de um bilhão de reais, o trabalho da Capes já ajudou a criação de 872 cursos de mestrado e 492 de doutorado no país, além de aumentar o número de alunos em mais 30 mil para mestrado e 19 mil para doutorado.

Se você ficou interessado em saber mais a respeito e quer desenvolver uma pesquisa, basta entrar nos sites dos órgãos. O site do CNPq é o www.cnpq.br. Para se candidatar aos editais, é preciso responder um formulário presente no endereço e ter currículo cadastrado na plataforma Lattes. Para a Capes vale a mesma dica, mas o site é o www.capes.gov.br. Apesar de haver poucos editais na área de Humanas, vale à pena entrar nos sites e garimpar uma oportunidade ou falar com sua instituição para saber sobre isso. É a chance de desenvolver conhecimento e ganhar mais do que uma boa nota com isso.

Experimenta!

Universidades têm oportunidade para estudantes desenvolverem seus projetos

Uma das primeiras experiências que muitas crianças têm com a ciência é a de plantar feijão no algodão. Um procedimento simples que mostra como a natureza funciona. Com o passar do tempo as pessoas começam a ter mais contato com a ciência, e a curiosidade vai aumentando junto com o interesse pela ciência, pois é preciso saciar todos os porquês que existam na cabeça, e quanto mais se conhece, mais perguntas aparecem.

O despertar do conhecimento é mais bem aprofundado quando se chega à universidade, local onde novas idéias surgem e onde as pessoas estão para aprenderem melhor. É claro que isso é uma visão um tanto romântica. Muitas pessoas ignoram completamente a ciência e também ignoram o fato de estarem no ensino superior, uma posição privilegiada quando a questão é conhecimento.

Mas para aqueles que realmente gostam de experimentar, de adquirir conhecimento e são interessados em ciência, a academia é o local mais que ideal para ir além da experiência do feijão. Uma das portas para isso é a iniciação científica, presente nas universidades curitibanas. Qualquer aluno matriculado nas instituições pode participar do processo, onde seu estudo será orientado por um professor da instituição.

A escolha de quais projetos serão aprovados é feita por comissões que julgam quais trabalhos devem ser financiados. O projeto pode ser voluntário ou pode haver o pagamento de uma bolsa. O aluno pode pesquisar em sua instituição se não há bolsas do CNPq, da própria instituição ou de outras fontes, como a Fundação Araucária, para iniciação científica, podendo ele ser pago para fazer seu projeto.

É importante o aluno estar atento às datas de início e término das inscrições para os programas, que geralmente são divulgados pelas próprias instituições. Cada academia tem seu critério para avaliar os projetos. Para ter um exemplo veja abaixo uma tabela que mostra como é feita a pontuação para a concessão de bolsas para a iniciação científica na Universidade Federal do Paraná.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

É o fim?

Festival Folclórico e de Etnias do Paraná vem perdendo público ano após ano.

por Rikardo Santana da Silva

O Paraná é um estado multicultural. Formado por várias culturas vindas da África, Europa, Ásia e da própria América. Para celebrar essa união de culturas, há mais de 40 anos é realizado no Teatro Guaíra o Festival Folclórico e de Etnias do Paraná, no qual vários grupos apresentam um pouco de sua arte. Tânia da Silva faz parte de um dos grupos folclóricos, o de portugueses, há mais de 15 anos, e constatou que o Festival vem perdendo público nos últimos anos. “Houve uma queda muito grande de público nesse evento que não deixa de ser um atrativo turístico da cidade de Curitiba”, conta.

Tânia fez em seu trabalho de conclusão de curso em Turismo, pela Universidade Tuiuti do Paraná, uma monografia sobre o Festival. A monografia mostra a história do evento e a importância dele para a cidade e para o estado. A autora fez uma pesquisa de campo com os curitibanos e constatou que poucas pessoas conhecem o Festival, mesmo fazendo parte já há tantos anos da programação cultural da cidade.

Esse desconhecimento acaba fazendo com que não exista uma ligação maior da população com suas origens ou com a cultura de outros povos, mesmo sendo considerada uma cidade multicultural. “Não existe uma divulgação do Festival. Se as pessoas que não têm acesso à cultura fossem avisadas sobre o evento, poderiam aproveitar essa oportunidade para visitar o teatro, já que os ingressos têm preços bem menores do que peças de teatro apresentadas no Guaíra. É uma oportunidade de ver a arte de outros países”, ressalta Tânia.

A falta de divulgação ocorre porque os grupos não têm dinheiro para fazê-la. Além disso, nos últimos anos, houve um aumento no número de grupos, mas não no de pessoas. “Acontece muita briga nos grupos, que acabam se dividindo, mas o número pessoas não aumenta. Acaba que ficam muitos grupos com poucas pessoas”, relata a autora. Outro aspecto que Tânia percebeu foi que esse tipo de manifestação cultural não é mais tão atraente aos mais jovens. “Nem todos tem tempo disponível para fazer isso, e quando tem, preferem ir para o shopping. Os jovens acham que é careta”, reclama Tânia.

A cada ano, com a queda de público, o Festival perde prestígio e acaba perdendo espaço. Como não havia retorno financeiro, o Teatro Guaíra começou a diminuir o número de dias que os grupos podiam se apresentar e o espaço também começou a ser mudado (do Guairão para o Guairinha). Há alguns anos, o evento ocorria em duas semanas no Guairão. Ano após ano, isso foi diminuindo, e hoje ele é feito em dez dias no Guairinha. A autora afirma que poderia haver uma maior abertura por parte do Festival, aceitando a entrada de qualquer grupo e melhorando a qualidade das apresentações, mas para isso é necessário que haja verba para os grupos, o que hoje não existe. “Os grupos não têm apoio, e isso faz com que não haja mais investimento no Festival”, conta Tânia. O Festival Folclórico e de Etnias do Paraná acontece todos os anos no mês de julho.

Fique longe de mim

O que é longe e o que é perto depende de cada um. Como as crianças criam essa noção?

por Rikardo Santana da Silva

O que você entende como longe ou perto? As percepções de perto ou longe variam de pessoa para pessoa. Por que temos essa diferença entre nós? O que nos faz pensar que algum lugar é longe ou perto? Seria essa uma construção feita pelos professores no nosso ensino fundamental? Além da noção de perto ou longe, também existe a questão da representação disso. Como construímos a imagem do nosso espaço?

Uma boa opção para avaliar isso é pelos desenhos que as crianças na faixa etária dos 7 a 11 anos fazem, para tentar identificar como eles representam seu espaço. Foi isso que a pesquisadora Michele Pereira decidiu fazer em sua dissertação de mestrado em Geografia na Universidade Federal do Paraná (UFPR): “Do próximo ao distante: A construção do conceito de espaço geográfico em crianças do ensino fundamental”. O estudo quis mostrar como essas crianças compreendiam seu espaço geográfico.

O estudo, feito com 20 alunos de 1ª a 4ª séries de uma escola municipal de Curitiba, mostrou que a perda de noção de espaço faz com que as crianças tenham dificuldade para localizar-se. Essa falta de noção, segundo a autora, é provocada pela pouca atenção dada à geografia. “O foco no ensino fundamental é ler e escrever e fazer equações. A geografia não é vista como algo importante, e muitos professores não têm formação nessa área. Se tivéssemos professores com formação específica nessa área, teríamos resultados diferentes. Até há cursos de alfabetização cartográfica na rede, só que não podem oferecer o aprofundamento teórico e empírico que temos na graduação”, afirma Michele.

A dissertação trabalhou com o conceito de espaço e lugar. “Tudo é espaço. A partir do momento em que eu me identifico com determinado espaço, em que eu me localizo nesse espaço e me sinto pertencendo a ele, esse espaço se transforma num lugar. O lugar é um espaço familiar”, explica. A partir dessa análise, a autora identificou que as crianças não tinham uma identificação com os espaços da própria cidade, pois não a conheciam. “Se a criança tivesse contato com esse lugar, andasse pelo bairro ou pela cidade, melhoraria a questão espacial. A pesquisa mostrou que, as crianças não demonstraram identificação nenhuma com a cidade de Curitiba”, confirma.

Os resultados mostraram que o quesito de perto ou longe acaba sendo criado pela subjetividade. “Uma das respostas encontradas para o que a criança achava longe foi a Inglaterra. Depois fui descobrir que a mãe da criança morava naquele país, estava longe dela, e por isso para ela a Inglaterra era longe, mesmo sem saber a distância”, conta Michele, que completa “Apesar de eu ter percebido que algumas crianças têm dificuldade em se localizar, minha pesquisa estava preocupada mais com a representação gráfica de espaços hierárquicos, que iam desde a sala de aula até o planeta”, explica.

A não identificação com o espaço e a dificuldade em se localizar e representar espaços são alguns dos problemas apontados pela autora. Para melhorar essa condição, ela aponta que é preciso mudar o modo como se pensa educação hoje. “É preciso valorizar disciplinas que não sejam Matemática e Português. Temos que dar mais importância para a Geografia e a questão do espaço. Além disso, precisamos ter menos alunos nas salas de aula e professores formados em Geografia nas escolas, com um ‘espaço’ menor entre o ensino fundamental e o universitário e, sobretudo, não queimar etapas, ensinando o que as crianças não estão prontas para aprender”, conclui Michele.