domingo, 18 de outubro de 2009
Igualdade já!
O Santos da Marta, "campeão absoluto deste ano"
Parabéns ao Santos Futebol Clube!
Para os mais desinformados, a equipe praiana conquistou ontem um título inédito: a Libertadores da América, só que no futebol feminino. Provavelmente muitas pessoas não sabem disso, pois a cobertura da mídia, com exceção da TV Bandeirantes, foi mínima, como sempre é em se tratando de esportes femininos. Já está mais do que na hora de de darmos a atenção e financiamento para as equipes femininas deste país.
O Santos venceu o Universidade Autonoma do Paraguai por 9X0 e sagrou-se campeão da primeira Libertadores feminina. O placar só mostra que o futebol feminino tem que evoluir e muito na região, visto que um time brasileiro, que tem como única competição nacional uma Copa do Brasil bem mal organizada (como todas as competições esportivas deste país), conseguiu vencer facilmente seu oponente da final da competição, a segunda melhor equipe da América do Sul.
O que acontece é que não se leva a sério o futebol feminino no Brasil. Como a Marta falou no final do jogo "mulher também sabe jogar bola", e como sabe. Já passou da hora dos clubes profissionais terem também um departamento feminino e da CBF criar competições nacionais que aconteçam o ano todo e não em apenas dois, três meses. Mulheres dispostas a jogar é o que com certeza não falta e torcedores ávidos por espetáculo e por mais uma chance de ver sua equipe campeã é o que não falta também (será que meu Paraná teria uma chance no feminino pelo menos?).
A questão da mulher no esporte é bem interessante e preocupante. Veja por exemplo os Estados Unidos. Lá existem várias ligas profissionais milionárias, como a National Football League (NFL) de futebol americano; a National Basketball Association (NBA) de basquete; a Major Legue Baseball (MLB) de baseball; a National Hockey League (NHL) de hóquei e a Major League Soccer (MLS) de futebol. Todas estas ligas são para homens, para as mulheres resta apenas o serviço de serem cheerleaders e ficarem assistindo aos jogos, sem poderem participar. É claro, existe a WNBA, de basquete e WPS de futebol, mas comparado com as ligas masculinas....são universos diferentes.
As mulheres são cerca de 50% da população mundial, mas nos esportes estão muito mal representadas. Não há grandes competições femininas e os ídolos esportivos são quase que exclusivamente masculinos, salvo umas Martas e Isinbayevas da vida. Poucos esportes tem um equilíbrio entre homens e mulheres, talvez apenas o tênis, a natação e o atletismo sejam exemplos, mas mesmo nesses esportes a atenção dada aos homens é maior que para as mulheres. Até no automobilismo, que é um esporte "unisex", não há muitas mulheres competindo, algumas aliás nem sabem que podem competir. Há pessoas que ficam presas em antigos esteriótipos do tipo "mulher sonha em ser modelo e homem em ser jogador de futebol". É preciso acabar com isso. As mulheres podem e devem sonhar e de fato serem jogadoras de futebol ou de qualquer esporte que queiram.
Está mais do que na hora das próprias mulheres levantarem esta bandeira, afinal de contas, isso tem a ver com igualdade de oportunidades. Mesmo aquelas que não gostam de esportes deveriam comprar essa briga pois é preciso mostrar para esta sociedade machista que a mulher pode ser o que ela quiser ser. É ridículo darem tanta atenção para a Copa do Mundo masculina enquanto que a feminina é quase que desprezada, sendo que o nível do jogo é tão bom quanto. Aliás, na última Copa feminina, na China em 2007, a Marta fez o que foi, na minha opinião, o gol mais bonito do ano, no jogo contra os Estados Unidos, uma verdadeira pintura que só pôde ser acompanhada por aqueles que não tem a mente presa em preconceitos.
"Mulher também sabe jogar futebol", assim como jogar rugby, baseball, basquete, pilotar e fazer o que quiser, o que ela for boa em fazer, como chef de cozinha (um universo bem masculino também), piloto de avião, mestre de obras, executiva de grande empresa, técnica de futebol ou outro esporte, narradora esportiva, política ou trabalhar na área de criação de comerciais. É tudo uma questão de igualdade e por isso todos nós temos que lutar. Não é apenas um jogo ou um esporte é a questão de acabar com preconceitos e abrir portas para oportunidades.
O futebol feminino ainda é precário no mundo todo. Apesar da Europa estar a anos-luz dos outros lugares, mesmo lá a perfeição está longe. Vou pegar como exemplo o meu time na Inglaterra, o Arsenal. A equipe feminina, o Arsenal Ladies, já foi campeã da Champions League, coisa que a masculina jamais foi, mas ao fazermos a comparação dos estádios vemos a diferença: o Emirates Stadium, do Arsenal masculino, tem capacidade para 60 mil torcedores, o Meadow Park, do feminino, tem capacidade para 4.502 torcedores. Eu sonho em ver um dia os estádios da Inglaterra com a mesma média de público do masculino para o feminino, ver aqui no Brasil a mídia dar a mesma atenção para o esporte feminino que dá para o masculino, o dia em que uma final de Champions League ou Copa do Mundo feminina tenha a mesma audiência da masculina, sonho com o dia em que o futebol se torne de fato um esporte de todos.
Novamente dou meus parabéns ao Santos pela conquista, parabéns a Band pela transmissão do torneio, parabéns ao público que foi ao estádio (14 mil torcedores, um excelente público) e parabéns ao futebol feminino e tomara que agora haja mais competições e mais apoio de clubes, empresas e da mídia ao esporte feminino em geral, para que as mulheres possam ser o que elas quiserem ser.
No Afeganistão as mulheres que jogam futebol sofrem ameaças de morte do Talebã, mas mesmo assim continuam jogando, por que? Porque elas amam esse jogo. Assim como amam esse jogo aquelas meninas que enfrentam preconceitos e falta de incentivos por escolherem ser aquilo que a sociedade não quer que elas sejam. Para todos aqueles que amam futebol, assim como eu, não importa a cor, a religião, orientação sexual ou gênero de quem está jogando, o que importa é o espetáculo, e para quem tem que fugir de preconceitos e até da morte para poder jogar, pode ter certeza que algo muito bom tem para mostrar, basta para isso abrirmos os olhos.
P.S.: Pra quem quiser acompanhar mais, segue as próximas competições internacionais. Só pra constar, a Alemanha foi campeã da Euro feminina, venceu a Inglaterra na final por 6X2 em setembro passado.
Tem ainda o mundial Sub-17 em Trinidad & Tobago em 2010.
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Um comentário:
Como eu faço para seguir o teu blog?
E a Poliana Okimoto venceu a Copa do Mundo de Maratona aquática. Engraçado é que ele tinha medo do mar.
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