Pela sharia, um conjunto de leis do islamismo, tanto o homem como a mulher tem certas regras de vestimentas que devem ser respeitadas. A lei não tem uma definição muito específica, por isso, cada localidade define o que é vulgar e o que não é, com qual roupa o homem, e principalmente, a mulher irão parecer meramente um objeto sexual. Alguns regimes, como o taleban, obrigavam mulheres a usarem uma burca que cobria todo o corpo. Outros lugares são mais "liberais" e dizem que mulheres só não devem andar com roupas que marquem o corpo ou com roupas que mostrem o corpo.
Esta lei é duramente criticada pelo ocidente, por ser retrógrada e contra a liberdade. Estes países são usados como exemplos de lugares antidemocráticos e contrários a liberdade de expressão. Também são usados como exemplos de lugares de opressão a mulher. Acontece que no último dia 22, mais um lugar entrou nesse hall de intolerância, só que esse lugar não é islâmico e nem segue uma regra religiosa. Esse lugar não fica em um país autoritário, sem liberdade e democracia. Esse lugar fica aqui, no Brasil e o nome dele combina bem com o que representa hoje: Uniban, a universidade que dita como seus alunos devem se comportar igual a sharia, igual a um taleban.
Acho que todos já conhecem o caso. A aluna, Geisy Arruda, vai com um vestido curto para a aula e de repente centenas de pessoas começam a xinga-la, humilha-la e agredi-la, simplesmente por causa de sua roupa. Como se isso já não fosse absurdo suficiente, a universidade resolveu expulsar a vítima e passar a mão na cabeça dos agressores. Segundo a instituição, a aluna feriu a ética do local ao ir com roupa tão provocante para aula, ou seja, ela provocou a situação. Resumindo, para a UNItaleBAN, é ético humilhar e bater em uma pessoa por causa de sua roupa, agora usar seu direito constitucional de ir e vir e de ter liberdade de expressão de qualquer tipo, isso é anti-ético e imoral. Absurdo pouco é bobagem.
Quem vê as imagens da aluna sendo humilhada não acredita que aquilo ocorreu em uma universidade em um templo do conhecimento que se transformou em um templo de intolerância. Uma selvageria da qual nunca vi, não neste século pelo menos. Estas pessoas são o mesmo tipo de pessoas que se vivessem no século XIX, xingariam as mulheres que começaram os movimentos feministas em favor do voto. Seriam os mesmos que nos anos 60 xingariam e humilhariam os negros que começaram a freqüentar faculdades nos EUA. Seriam os mesmos que apedrejariam uma mulher adúltera em praça pública por ela ter ferido a moral e os bons costumes. Seriam os mesmos alienados, acéfalos e sem personalidade que fizeram e ainda fazem os mais variados tipos de intolerância e discriminação ao redor do mundo e que usam como explicação a ação do outro seja ele um judeu, um negro, uma mulher ou um muçulmano. Fundamentalistas que em nome do ódio esquecem completamente da razão.
A única coisa boa deste absurdo todo foi que a repercussão do caso foi extremamente contrária a decisão da "universidade" (entre aspas mesmo) e a atitude dos alunos. Internautas repudiaram veementemente o fato assim como a mídia em geral, o que nos dá um pouco de esperança, pois se o futuro do país dependesse dos alunos da UNItaleBAN, eu temeria e muito pelo nosso futuro. Precisamos nos recordar que são estas atitudes isoladas que iniciaram movimentos de ódio ao redor do mundo como a Ku Klux Klan, e por isso precisamos sim nos posicionar contrários de forma a mostrar que isto não deve ser tolerado em nosso país, tanto a atitude de ódio como a impunidade cega aos agressores (ainda não sei qual é o mais absurdo).
Muitos dos animais que estão presentes no vídeo, disseram que a mulher de mini-saia deveria ser estuprada por causa de sua roupa. O que mais espanta é que algumas mulheres diziam o mesmo. No post abaixo eu falei sobre a necessidade de apoiarmos a liberdade e igualdade feminina, mas como isso pode ser alcançado com mulheres como essas que, além de não repudiar o machismo, ainda o apóiam, ou você acha que esta atitude não foi machista? Não sei você, mas nunca vi ninguém fazer uma manifestação dessa por um homem vir com as calças arreadas com a cueca a mostra.
Segundo a lógica dos alunos da Uniban, a mulher que sofre um estupro é a culpada, pois usou roupas vulgares, quem sofre um assalto é o culpado, pois deixou suas coisas "dando sopa", quem sofre preconceito é o culpado, pois ele se mostrou diferente. Um pensamento absurdo e retrógrado que achei que tinha sido extinto, mas pelo jeito continua vivo e aparece de vez em quando em algumas multidões de imbecis. Como diria uma professora de história que tive, "a massa não pensa". Bastou que um achasse a roupa uma arma de destruição em massa (não, pra eles o vestido era pior que isso) e de repente todos acharam o mesmo, sem ao menos ponderar, parar para pensar, foi um efeito manada
É surreal pensar que isso de fato aconteceu em uma universidade e em um país como o Brasil. É inacreditável ver estudantes xingando uma pessoa por causa do seus trajes. É nojento ver que a impunidade está mais presente do que imaginávamos. Mais absurdo ainda é que algumas pessoas apoiaram a "universidade", o que mostra que não são só os alunos da Uniban que tem este pensamento de séculos atrás. Alguns defensores do taleban, digo, da Uniban, falaram que as pessoas não sabem o que aconteceu antes, que ela provocou a situação. Nem que ela tivesse matado alguém esta situação seria justificável, a violência não tem justificativa assim como a intolerância e o machismo. Anti-ético é humilhar, é agredir, é ser intolerante. Todos tem o direito de ir e vir e de usar o que quiser neste trajeto. O que nos faz não é o que vestimos, mas sim o que fazemos. Com base nisso, não era a menina que foi com um vestido curto que era uma "puta", mas sim aqueles ques estavam devidamente "vestidos para humilhar" que são uns idiotas.
Para concluir este assunto, vamos falar da sharia de novo. Até o século XVIII, XIX, as mulheres dos países mulçumanos gozavam de maior liberdade do que as do ocidente. Mas o ocidente mudou, e as leis fizeram com que as mulheres tivessem mais liberdade e autonomia e fizeram com que elas pudessem falar o que quiser, pensar o que quiser, fazer o que quiser e vestir o que quiser. Enquanto isso a maioria dos países mulçumanos ficaram parados no tempo e mantiveram a sharia, invertendo a situação. Hoje o mundo ocidental é pautado na liberdade, na igualdade e na fraternidade, pelo menos em teoria, por que na prática, principalmente na Uniban, ainda estamos presos no passado.
Como diria Martin Luther King "Eu tenho um sonho de que meus filhos, um dia, viverão numa nação onde não serão julgados pela cor de sua pele e sim pelo conteúdo de seu caráter". Ainda esperamos esse dia, assim como esperamos o dia em que as pessoas não julguem as outras por sua roupa ou sua aparência. Somos livres para sermos o que quisermos, para irmos onde quisermos e para fazer o que quisermos. Quando alguém faz algo que vá contra isso não está apenas agredindo aquela pessoa, está agredindo todos nós por isso não devemos e não podemos ficar calados.
P.S.: Artigo de uma antropóloga sobre o assunto, recomendo
http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,o-urro-ancestral-da-faculdade-injuriada,459621,0.htm
UPDATE: A expulsão foi revogado, um dos absurdos foi desfeito. Mas se eu fosse ela, aliás, se eu fosse qualquer aluno pensante dessa "universidade", eu já estaria procurando um lugar melhor, o que não é difícil. Segue o link:
http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI4091230-EI8139,00-Uniban+recua+e+decide+revogar+expulsao+de+aluna.html
Um comentário:
Rikardo, é isso mesmo! O maior absurdo é este fato ter ocorrido em uma univeridade. Local este que tem alunos selecionados e onde boa parte da população não tem acesso. Ou seja, a nossa "elite intelectual" é preconceituosa e não reconhece os direitos dos outros e, principalmente, não reconhece os seus deveres.
Ehhhh, Brasilzão!!!!
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