quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Que Mundial!


O papa-recordes Bolt e o simpático mascote Berlino: Personagens do show do mundial.

O mundial de atletismo está incrível! Usain Bolt quebrou mais um recorde mundial hoje(ontem), nos 200m e a pergunta que fica é "será que ele é humano?". Enquanto o segundo fez o tempo de 19.81, Bolt fez impressionastes 19.19, recorde absoluto, para juntar aos 9.58 dos 100m, e tem mais os 4X100m nesse sábado. Fantástico a organização, o público, os atletas, enfim, muito bom mesmo o mundial. A cada minuto é uma nova prova, um novo desafio e você não consegue tirar os olhos da TV. O evento está ocorrendo em Berlim e já está ficando na história como um dos melhores de todos os tempos.

Os recordes de Bolt são apenas um dos motivos do sucesso do mundial. Vendo as provas, é possível ver que, não importa de que país a pessoa é, se for o(a) melhor, será reverenciado pelo estádio, e se não for o melhor também vai, o que vale é estar ali e superar seus limites, independente de quem seja, prova cabal de que o racismo e o preconceito estão com seus dias contados. Claro que os atletas da casa recebem um carinho especial, mas em nada lembra o passado alemão, pois hoje o país é muito mais multicultural com até atletas negros com nome Müller entre eles.

Atletas, homens e mulheres, quebrando seus recordes pessoais, gênios do esporte quebrando recordes mundiais, decepções, surpresas, superação e muita emoção são os componentes desse sucesso. Além disso, o mascote da competição é um show a parte. O urso Berlino, carregou atleta nas costas, caiu, foi levado nas costas, levou toco, enfim, o mascote simpático ajuda e muito na beleza do evento. Estou realmente maravilhado com a competição. Os melhores homens e mulheres do atletismo estão dando show na pista e no campo do Olympiastadion de Berlim.

Berlim, a cidade multicultural da Alemanha. Em 1936, houve nessa cidade as Olimpíadas, evento que foi usado pelo então Chanceler alemão, Adolf Hitler, como uma chance de mostrar ao mundo a superioridade ariana frente ás outras "raças". Não funcionou. Apesar da Alemanha ter ficado á frente no quadro de medalhas, a "superioridade" alemã não se mostrou. Muito disso deve-se a figura de Jesse Owens, que venceu quatro medalhas de ouro, e que, apesar de estar na Alemanha nazista e ser negro, pode competir, andar de ônibus e conviver com as demais pessoas sem restrição alguma, coisa que não acontecia na "terra da liberdade" Estados Unidos, ironias da vida (aliás, Owens disse que na verdade quem o ignorou mesmo não foi Hitler, e sim o Presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt, que sequer o convidou para ir á Casa Branca, mas isso é assunto pra outro post).

O que mais irritou Hitler não foi o fato de Owens vencer quatro medalhas de ouro, mas sim o fato de que o estádio inteiro (cerca de 110 mil pessoas) aplaudiu aquele fantástico atleta e após as competições o pediam autógrafos, ou seja, se tornaram fãs. Após 73 anos, no mesmo estádio, uma nova geração de alemães, venera um novo ídolo negro do atletismo. Um herói jamaicano, que também foi aplaudido e cercado de fãs por onde andava.

Quando vemos tudo isso, fica impossível pensar que a ideia do ódio a uma pessoa apenas pela sua cor, religião, etnia ou orientação sexual seja viável. Mais do que qualquer coisa o mundial de atletismo mostra que não estamos torcendo por países ou por tipos de pessoas, estamos torcendo por nós mesmos, seres humanos, em busca de nossos limites, e quando um de nós consegue, é como se todos nós conseguíssemos. Parabéns a Usain Bolt! Parabéns a Berlim! E parabéns ao atletismo!

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Pra quem quiser acompanhar, o mundial está sendo transmitido pelo canal SporTV. O mundial vai até domingo e pode esperar que vem mais posts.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Rádio para todos

Do que o rádio precisa para de fato comunicar-se com todos?

Entre as décadas de 1930 e 1950, o Brasil viveu o período chamado de “era de ouro do rádio”, quando os programas radiofônicos tiveram grandes audiências e eram a melhor opção de entretenimento da população. Com o advento da televisão, o rádio foi aos poucos perdendo a importância que tinha anteriormente, mas algumas características do meio permaneceram como vantagens para a divulgação de informações, o imediatismo (estar no local no momento em que o fato ocorre) e o fato de que qualquer um pode ouvir rádio enquanto faz outras coisas, como dirigir.

Mas será que esses fatores que beneficiam o radiojornalismo são usados pelas estações de rádio de Curitiba? A dissertação do professor da Universidade Positivo Luiz Witiuk, “Um olhar sobre o radiojornalismo de Curitiba”, tentou responder essa questão e ainda avaliar a qualidade da produção. A dissertação foi desenvolvida no curso de mestrado em Comunicação na Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). Witiuk fez uma pesquisa para saber quais rádios davam importância para o jornalismo na cidade e descobriu que apenas quatro das 29 estações da cidade trabalham continuamente com a divulgação de notícias. “Das 29 emissoras, 17 faziam alguma coisa de radiojornalismo, mas apenas quatro tinham uma boa estrutura, com departamentos jornalísticos e programas informativos. Isso na época em que a pesquisa foi feita, entre 2006 e 2007”, conta Witiuk.

Na pesquisa feita nestas quatro emissoras (BandNews, CBN, Paraná Educativa e Clube Paranaense) o autor identificou que existem bons profissionais e uma boa estrutura, mas que, apesar disso, uma melhor integração com o público ouvinte era necessária. “O radiojornalismo em Curitiba tem uma certa presença e uma estratégia de ação, mas o grau de participação do ouvinte na construção da notícia é muito pequeno. Essa participação é valorizada apenas na produção, mas na fase da execução da notícia o ouvinte fica de lado”, constata Witiuk. O pesquisador propõe uma maior participação do público para que o rádio seja mais democrático.

Outra questão abordada na pesquisa diz respeito à inovação que o rádio precisa ter, investimento em inserções sonoras que não sejam apenas a voz e a produção de documentários nas estações curitibanas. “O documentário é um formato jornalístico que aprofunda a compreensão de um fato e aqui praticamente não temos isso”, afirma o autor. Outro quesito apontado por Witiuk é a necessidade de a rádio se comunicar com as comunidades, de falar sobre o cotidiano da população, para se aproximar do público. “A rádio precisa estar presente nas diversas situações da vida da população. O estúdio poderia sair de dentro da emissora e ir para um terminal, para uma comunidade e falar da realidade dela”, analisa.

Para resumir, o que o autor coloca é que é preciso uma ampliação da cobertura para que a população seja de fato bem informada. “É necessário uma abertura maior dos empresários da comunicação para a importância da informação e principalmente informações sobre o meio em que o público está inserido. Para isso, é necessário ampliar o quadro dos jornalista que cobrem a cidade e ousar mais”, analisa Witiuk.

Cuidado!

Campeão mundial em acidentes de trabalho em 1970, Brasil tenta melhorar as estatísticas

O ano de 1970 foi de títulos para o Brasil. Conquistamos o tri-campeonato mundial de futebol no México, mas também conquistamos um título nem um pouco agradável: o de campeão mundial em acidentes de trabalho. Naquele ano, foram mais de um milhão e 800 mil acidentes e quatro mil mortes. Desde a década de 1970 o Brasil fez mudanças nas leis para que houvesse uma redução nesse número, mas ele ainda é grande. Segundo dados do Conselho Nacional da Previdência Social, são gastos R$ 32 bilhões por ano com auxílios, mas é estimado que seja mais de 70 bilhões de reais, visto que muitos empregados não notificam acidentes por não terem carteira assinada ou por medo de represálias.

Hoje, o Brasil tem três tipos diferentes de avaliação da prescrição (prazo legal para acionar uma ação). Letícia Pereira fez sua monografia de trabalho de conclusão de curso em Direito pela Pontifícia Universidade Católica justamente sobre estes tipos de prescrição: “Prescrição nas ações de indenização por acidente de trabalho”. Em sua monografia, ela faz um histórico dos acidentes de trabalho no Brasil e mostra as transformações legais acontecidas durante os anos. Mas o que é acidente de trabalho? Segundo Letícia, a melhor definição é que “o acidente de trabalho é caracterizado quando há ocorrência de um evento danoso subitâneo, imprevisto e imediato, ligado à relação de trabalho, que ocasione lesão corporal ou perturbação funcional ao trabalhador, causando-lhe uma incapacidade permanente ou temporária para o trabalho”, escreve a autora em sua monografia.

As transformações ocorridas através dos anos também confundiram um pouco o sistema, que hoje prevê três tipos de prescrição: uma de acordo com a constituição, sendo o julgamento de tais ações de responsabilidade da Justiça do Trabalho; a segunda diz que o acidente é uma responsabilidade civil, sendo que deve ser regulado pela lei civil, e o terceiro e último diz que os acidentes de trabalho são imprescritíveis, pois estão ligados aos direitos de personalidade. Os três tipos de prescrição são estudados por Letícia, que no fim concorda com aqueles que alegam que a competência para julgar essas ações é da Justiça do Trabalho.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

“Não era bem isso que eu queria”

Porque estudantes passam em um vestibular de universidade pública para desistir pouco tempo depois?


As universidades públicas têm passado por uma situação complicada nos últimos anos: a evasão. Por diversos motivos, estudantes começam a fazer um curso e depois de algum tempo ficam insatisfeitos com a escolha e acabam abandonando a universidade. “A sociedade como um todo paga para esses alunos estudarem na universidade pública”, diz a doutora Luciana Valore, que coordena a pesquisa “A dúvida quanto ao curso universitário: Uma análise institucional de discursos”, que visa compreender as causas que levam estudantes a abandonarem seus cursos.

O objetivo do estudo é fazer um perfil do estudante que decide desistir do curso que escolheu a partir de uma análise do discurso de universitários que querem sair de seus cursos. A pesquisa começou em de 2007 e irá até 2009. Foram feitas entrevistas com 25 alunos que estavam pensando em desistir ou trocar de curso. A pesquisa funcionou para esses alunos como uma reorientação profissional, para averiguar o motivo de sua falta de ânimo e possíveis saídas.

A partir de agora, Luciana irá fazer uma análise com base na psicologia para identificar se esta situação atrapalha a vida do estudante. “Iremos agora tentar identificar os efeitos que essa situação de dúvida traz para a auto–imagem e também como isso interfere em suas vidas sociais”, diz Luciana. Além disso, a autora avalia que é possível, a partir do estudo, tentar achar soluções. “O principal fator apontado pelos alunos é que o próprio curso cria essa evasão. Devemos pensar agora em como podemos melhorar o curso para evitar isso. A evasão é criada pelo curso e não apenas porque o aluno é imaturo. O curso não lhe dá uma motivação do ponto de vista de mostrar para ele como é de fato a profissão”, afirma Luciana. Para quem não desistiu da matéria, agora tem uma idéia do porquê da evasão.

Motivos apontados pelos entrevistados para a evasão

Formação universitária – o modo como o curso é constituído. Falta da relação entre teoria e prática.

Postura do professor – aulas muito expositivas, pouca dedicação dos professores e professores desmotivados.

Falta de ligação entre as disciplinas.

Grade horária – alguns cursos têm aulas em dois turnos, impossibilitando estágios.

Escolha feita em condições erradas – por pressão dos pais, pelo nome do curso ou por causa da pouca competitividade do vestibular do curso.

Reconhecimento social da profissão – alunos se deparam com uma outra realidade da profissão e questionam se ela terá futuro e valorização.

Desempenho acadêmico abaixo do nível esperado – em área de exatas, pessoas que iam bem no ensino médio acabam tirando notas baixas e perdem a motivação.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Eu chego lá

O problema não é chegar ao ensino superior, mas continuar até o fim do curso

O acesso à educação pública nem sempre é fácil. Para falar a verdade, para a maioria não é fácil, por isso muitos nem tentam fazer o vestibular. As condições econômicas muitas vezes são empecilhos para entrar e depois se manter na universidade. Essa foi uma das constatações da dissertação de Fernando Mesadri para o mestrado em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

A dissertação usou a história de vida de dois estudantes pertencentes a classes sociais mais baixas que estudam em faculdades particulares para ilustrar a situação de dificuldade de acesso e permanência na educação superior de estudantes provenientes de classes menos favorecidas economicamente. O que Mesadri percebeu com seu estudo é que mesmo quando essas pessoas conseguem chegar ao ensino superior, a manutenção se torna muito difícil.

Mesadri coloca em sua dissertação que “as desigualdades de acesso e principalmente a permanência na educação superior e a conseqüente aquisição do capital cultural se mostram evidentes quando a origem social do estudante carece de elementos e é menos favorecida. O direito ao ensino fundamental com qualidade implica também reduzir as acentuadas desigualdades no acesso aos níveis superiores. O privilégio conferido aos mais bem preparados, possuidores de meios favoráveis para cursar uma universidade pública ou privada e nela manter-se, conflita com a tímida atuação do governo na concessão de auxílio aos carentes sob a forma de bolsas de estudo. Há necessidade de muito mais! Livros, material escolar, refeição e condições de transporte são essenciais àqueles que tramitam no meio acadêmico e nele querem se desenvolver”, afirma o autor.

A conclusão a que o autor chegou foi que o ensino superior no Brasil nunca foi voltado para a formação da grande maioria da população e que os benefício sempre foram para as elites. O autor também fala sobre as políticas de inclusão adotadas nos últimos anos. Para ele ainda há muitos problemas. Sobre as cotas nas universidades públicas, Mesadri afirma que o grande problema é que não houve um aumento das vagas, mas uma divisão daquelas já existentes. Quanto ao Programa universidade para todos (ProUni), Mesadri se mostra um pouco desacreditado, pois as isenções para as instituições ainda são muito pequenas, não garantindo um ensino de qualidade. Por enquanto, ainda está difícil chegar ao ensino superior e mais difícil ainda permanecer.