quinta-feira, 30 de julho de 2009

Paranóia

Nova gripe faz universidade de Londrina cancelar aulas
http://noticias.terra.com.br/gripesuina/interna/0,,OI3843341-EI13839,00-Nova+gripe+faz+universidade+de+Londrina+cancelar+aulas.html

Mais escolas adiam as aulas
http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=909383&tit=Mais-escolas-adiam-as-aulas

Escolas e universidades públicas aderem à suspensão de aulas
http://portal.rpc.com.br/jl/online/conteudo.phtml?tl=1&id=910100&tit=UFPR-suspende-aulas-a-partir-de-hoje

OMS sugere cancelamento de eventos públicos
http://jc.uol.com.br/canal/gripe-mundial/noticia/2009/07/28/oms-sugere-cancelamento-de-eventos-publicos-194856.php

Justiça determina cancelamento de shows em Jaguariúna (SP) após 4 mortes
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u570548.shtml

Mas o Brasileirão continua. Nâo é aglomeração?

Hoje eu vou falar aqui de uma doença que vem causando muitas mortes mundo afora. De transmissão aérea, a doença é controlada evitando o contato com pessoas infectadas e aglomerações. Se você começar a manifestar os sintomas, procure imediatamente um médico. Se for confirmado a doença, você irá ficar em uma área isolada recebendo o tratamento. Essa doença que eu estou falando está conosco há muitos anos e mata milhões de pessoas por ano. Não, não é a tão falada gripe A, é a tuberculose.

Mas, porque eu estou falando de tuberculose num momento em que o mundo todo se preocupa com a já famosa gripe suína? Por que quero mostrar que essa verdadeira paranóia criada em cima da doença não tem sentido lógico. A tuberculose é um grande exemplo. De transmissão aérea, a doença mata, segundo dados da Organização Mundial da Saúde, cerca de 1,9 milhões de pessoas e deixa mais de 8,7 milhões de infectados por ano no mundo. Acha muito? Pois essa doença está entre nós há muito mais tempo do que a gripe A e é causada por uma bactéria, que pode ficar em estado latente em seu organismo, sem desenvolver a doença. O pior de tudo é que era previsto no início do século que ela estivesse extinta até 2010. Tolo engano, os casos só aumentaram nos últimos anos, principalmente em países menos desenvolvidos, incluso o Brasil, muito por causa da Aids.

E agora, o que vamos fazer? Ficar desesperados pela tuberculose, começar a usar máscaras e nos esconder em casa? Não! Vamos continuar vivendo nossa vida normalmente, sempre tomando precauções para não pegarmos a doença. Você pode me perguntar agora: "Mas não é isso que estamos fazendo?" e eu respondo que não. O que estamos fazendo é apenas criando pânico em torno de algo que, comparado com diversas outras mazelas, não é nada. Estes cuidados (limpar bem as mãos, ventilar lugares fechados e manter a higiene. Não o uso de máscaras, que só servem para quem já está infectado ou cancelar eventos e aulas, como se a gripe, e todas as outras doenças, fossem sumir em uma semana) nós deveríamos ter todos os dias e não só por medo.

Talvez esta seja a grande contribuição desta paranóia. Aqui em Curitiba, muitas pessoas andavam nos ônibus com as janelas fechadas, por causa do frio, o que me indignava ao máximo (se não gosta de frio, o que está fazendo aqui?) pois ninguém se importava com a própria tuberculose, com a meningite e com a gripe comum mesmo (que mata cerca de 250 mil pessoas todos os anos no mundo, e ninguém usava máscara por causa disso). As pessoas não entendiam que o que passa a doença é o vírus e não o frio. Provavelmente vamos ver um decréscimo no número dessas doenças, porque o medo já fez com que as janelas não se fechem.

Já falei aqui em um post anterior sobre a Aids, que ainda hoje, apesar de muitas campanhas de prevenção contamina vários jovens por eles se acharem invulneráveis. A pandemia da Aids é outro bom exemplo por isso. A frase do ator Wagner Santisteban, talvez exemplifique isso. Ele disse no twitter: "Quatro mil pessoas têm gripe suína e todo mundo quer usar máscaras. 33 milhões têm aids e ninguém quer usar camisinha!". Essa está sendo a tônica desta pandemia: Todo mundo se esqueceu que as doenças estão por aí e a gripe A não é o único vírus a causar mortes e que necessita de precauções.

Se deixarmos as doenças respiratórias e a Aids de lado, podemos ver inúmeros exemplos de que esta paranóia não tem sentido. Milhares de pessoas morrem de cólera, dengue, febre amarela, febre tifóide, doença de chagas, ebola, malária, leishmaniose, peste bubônica além de sofrerem complicações de outras doenças infecto contagiosas. Todas estas doenças poderiam ser facilmente extintas se houvesse saneamento básico universal, o que está muito longe de acontecer, no entanto não vejo nenhuma campanha da mídia alertando sobre isso, fazendo com que os cidadãos exijam seu direito de ter uma boa saúde através de um saneamento básico, que é barato e fácil de se fazer, ao invés disso ganhamos máscaras.

Poderia ficar dias falando sobre outras coisas que causam muito mais danos e que nem nos damos conta. O cigarro, por exemplo, mata milhões de pessoas por ano e continuam a surgir novos fumantes e muitas pessoas não ligam de serem fumantes passivos ou de fumar narguile (espécie de fumo muitíssimo mais prejudicial que o cigarro comum por conter água e fazer com que a "sujeira" do fumo se impregne no pulmão). Há também os acidentes de trânsito, principalmente os causados por motoristas bêbados, drogas, e diversas outras causas mortis muito mais frequentes e terríveis que ninguém se dá conta.

Já foi a "onda" da dengue, da febre amarela, da doença de chagas e agora chegou a gripe A. O que a mídia faz, ao criar essa paranóia, não é alertar a população no intuito de se proteger e sim criar pânico e também a necessidade de se manter informado, fazendo os meios ganharem mais, já que eles vendem informação. Não é errado vender informação, afinal eu sou um jornalista e irei fazer isso no mercado de trabalho, o que é errado é fazer o que está sendo feito, onde apenas o que se faz é instigar o medo.

Então o que podemos fazer? Existe dois meios de informar: o modo como estamos fazendo agora e informar de forma a conscientizar. Devemos ir ao cerne desse problema e de todas as outras doenças. A falta de saneamento básico, permanência em locais fechados sem ventilação e hábitos ruins são alguns deles e é dever da mídia mostrar isso de forma a fazer as pessoas compreenderem e mudarem suas atitudes, não por medo e de forma momentânea, mas pelo entendimento lógico e de maneira contínua.

Hoje muitas pessoas não deixam água parada em nenhum lugar, pois sabem que mosquitos transmissores da dengue podem usar para botar ovos. Isso foi uma conscientização, mas não foi o pânico que criou isso, mas sim a informação. É certo que um pouco de medo ajuda nas tomadas de decisões, mas como tudo, em excesso só prejudica.

O que pode ficar dessa paranóia é que talvez ninguém mais fique com as janelas fechadas no inverno com medo do frio, pois irão saber que o que transmite a doença é o vírus e com quanto mais circulação menor as chances de se contrair a doença. A oportunidade de se falar de todas estas doenças que citei está nas mãos da mídia. Todos estão prestando atenção e sabemos que mais tempo ou menos tempo a gripe vai sair do noticiário, mas a conscientização vai ficar pra sempre, depende de que informação tivermos.

Limpar bem as mãos e ventilar os lugares não é a paranóia, a paranóia está em achar que está é a maior ameaça que temos a nossa saúde. Paranóia está em cancelar aulas nas escolas e universidades, como se o vírus fosse simplesmente desaparecer em uma semana. Colocar uma placa dizendo "Proibido a entrada de vírus" seria tão eficiente quanto o cancelamento, o vírus está em todos os lugares. É preciso mostrar que há outras doenças e que outras virão, ao menos que tomemos atitudes. Muitas destas atitudes dependem do governo e nada mais sensato que mostrar isso agora em período de eleição.

Lembrem-se que a tuberculose era para estar extinta até 2010, mas ela ainda está entre nós, muito pela falta de cuidado com a doença, já que é necessário tomar o medicamento durante seis meses para fazer efeito, e a falta de consiência e de informação da população. Assim como não é culpa do frio ela ainda existir, também não vai ser por causa das máscaras ou cancelamento de aulas que a gripe suína vai desaparecer.

UPDATE:

Dica da leitora do blog Karla Dudas, vídeo sobre o que está por trás dessa paranóia. Veja e tire suas próprias conclusões:

Link:

http://www.youtube. com/watch? v=CcgCBiyGljM&eurl=http%3A% 2F%2Fwww. sedentario. org%2Fvideos% 2Foperacao- pandemia- o-que-ha- por-tras- da-gripe- suina-18136&feature=player_ embedded

O poeta da humanidade

Obras de Shakespeare influenciaram gerações de escritores, porque?

O ano era 1580. Em Portugal, com a morte do rei D. Henrique I, o país perde a independência para a Espanha. A Sibéria começa a ser conquistada pela Rússia. Juan de Garay descobre a região que hoje é Buenos Aires. Também naquele ano, o inglês sir Francis Drake circunavegou o globo, mas se ele soubesse que em Londres iria acontecer a primeira apresentação teatral de um dos maiores dramaturgos da história, talvez ele adiasse sua viagem para depois disso.

No Globe Theatre, na capital britânica, foi que William Shakespeare apareceu para o mundo, primeiro como ator, mas em pouco tempo seu talento para compor peças seria reconhecido e o transformaria num dos maiores dramaturgos da história, fazendo suas obras serem importantes mesmo centenas de anos depois de sua morte.

Ser ou não ser? Matar ou não matar? Morrer ou não morrer? Viver ou não viver? Amar ou não amar? Estas são dúvidas presentes nas obras de Shakespeare. Alguns destes questionamentos, e tantos outros presentes em sua obra são os mesmos que fazemos a nós mesmos na esperança de encontrar uma resposta. Tentamos encontrar significados para o que fazemos, motivos, algo que justifique nossas ações e até mesmo nossa existência, e quando erramos, tentamos lavar nossas mãos na esperança de que a água leve nossos erros.

Todos estes questionamentos foram há muito tempo explorados por vários escritores, por filósofos, psicólogos e vários outros estudiosos, mas quando vamos olhar quem é o mais conhecido difusor destas dúvidas do âmago humano vamos nos deparar com um inglês nascido no ano de 1564 na pequena cidade de Stratford-upon-Avon. Ele era o mesmo jovem que se apresentou no Globe Theatre em Londres e que o sir Francis Durke perdeu por estar dando a volta ao mundo.

Tão famoso como seu nome foram suas obras, que mesmo quem nunca sequer as leu ou foi ver uma peça sobre elas, sabe suas histórias. Shakespeare escreveu tanto comédias, tragédias e dramas históricos como poemas, e com estas obras influenciou gerações de escritores mundo afora, inclusive no Brasil, onde podemos perceber esta influencia no maior escritor brasileiro Machado de Assis.

Mas porque as obras de Shakespeare são tão importantes? Parte da resposta está no fato e que as obras de Shakespeare mostram um ser humano mais humano do que outras obras do mesmo período ou de épocas anteriores. Não era um herói grego o protagonista da história, mas sim um ser humano passível de erros, que tinha consciência, pensava sobre seus atos, que se arrepende e que principalmente queria algo, tinha sonhos. Estes sonhos ás vezes não eram alcançados, como na vida. O destino é mais cruel e impõe barreiras aos sonhos, como nas obras do dramaturgo inglês.

Tragédias da vida real

Romeu e Julieta. A história é simples: um casal de apaixonados quer se casar, mas os pais são de famílias rivais e impedem isso. Julieta elabora um plano de fingir-se de morta para fugir com seu amado. Romeu não sabe do plano, vê sua amada morta e decide se matar, quando Julieta acorda percebe Romeu morto e também se mata. Com certeza você já deve ter ouvido esta história de várias maneiras diferentes, em várias roupagens e cenários, mas foi Shakespeare que a transferiu para a ficção.

A grande pergunta a se fazer é a seguinte: Shakespeare seria tão famoso se Romeu e Julieta terminassem felizes para sempre? Se Macbeth não matasse o rei da Escócia? Se Othelo não ficasse cego pelo ciúme e matasse Desdemona? Se não houvesse algo de podre no reino da Dinamarca? É claro que não seriam mais tragédias, mas será que seriam grandes obras citadas por várias gerações como são? Talvez não. Isso porque estas histórias do dramaturgo só são tão aclamadas justamente por mostrarem todos os sentimentos humanos em suas mais variadas formas possíveis.

Esta percepção de que a obra shakesperiana é importante para a compreensão humana já foi estudada por vários críticos literários, entre eles está Harold Bloom, que escreveu o livro “Shakespeare: A invenção do humano”. Bloom vai além da idéia de que o inglês tenha apenas retratado o humano, para ele Shakespeare inventou o que é ser humano. Ele afirma isso ao fazer uma análise de todas as obras e mostrar as representações humanas presentes nelas.

Ao não mostra um happy end, estas obras acabaram ficando eternizadas na memória coletiva da civilização ocidental como uma representação de como nos comportamos, nossos medos, nossas virtudes e nosso modo de ser. Quando é mostrado o ciúme doentio de Othelo, não se está apenas falando do personagem, mas sim de todos aqueles que já ficaram cegos e se renderam a fofocas ou a provocações. A loucura de Hamlet, a obssesão de Macbeth, o caso de amor de Antonio e Cleóprata, a prova de amor não apresentada por Cordélia em Rei Lear, tudo isso tem uma representação na vida real de alguma forma. Inveja, raiva, ciúme, desejo, sonhos, amor, ódio, tudo isso está presente na obra shakesperiana, em grande ou pequena dose. Mas há mais coisa entre o céu e as obras do que imagina nossa filosofia.

Ler ou não ler?

A importância da obra de Shakespeare já está mais do que estudada. Seus textos são altamente difundidos ao redor do globo, e não apenas do teatro globo. Mas então fica a pergunta: Porque ler Shakespeare? Suas histórias são tão difundidas e citadas que fica mais fácil ficar parado e aprender por osmose do que se dispor a emprestar uma obra dele e lê-la.

O motivo para ler suas obras é o mesmo que provavelmente o sir Durke teve ao sair numa volta ao mundo: conhecer o mundo através de seus olhos e não dos outros. Será que esta importância dada ao dramaturgo inglês será eterna? Shakespeare sempre será citado? Não sei, mas sei que suas obras estarão nas bibliotecas à espera de alguém que a leia e a interprete de uma maneira diferente, ou que se veja representada nela.

A forma como o poeta descreveu o ser humano foi uma das mais completas já vistas na literatura e isso o transformou em um dos maiores escritores da história, inspirando outros autores, como Goethe e Machado de Assis, assim como cineastas como Akiro Kurosawa e vários outros que transcreveram as emoções humanas dos palcos para as telas. Shakespeare não vivia em uma época como a nossa, mas as emoções e as nossas características de tomar decisões ou de não tomá-las é eterna e independente de geração, e é isso que faz da obra dele importante.

Shakespeare de certa forma foi um sociólogo antigo. Mostrou como somos, como são nossas emoções, como são nossos sentimentos e de certa forma suas obras foram um espelho não só de uma sociedade, mas de uma espécie. A diferença dele para os sociólogos é que ele não fez análises, não fez estudos e muito menos pesquisas, apenas retratou o que via. Como o próprio Shakespeare dizia “Lutar pelo amor é bom, mas alcança-lo sem luta é melhor”, assim como analisar a humanidade é bom, mas conseguir entende-la sem análise é melhor, foi o que ele fez.

PIT STOP

Mais uma edição do seu programa de automobilismo.

Link:
http://www.youtube.com/watch?v=Btrw04hNIEc

sábado, 25 de julho de 2009

Entrevista: “Não se valoriza a divulgação científica”

por Rikardo Santana da Silva

Torcedor fanático do Comercial de Ribeirão Preto, interiorano com muito orgulho e palmeirense por opção, já que mora na cidade de São Paulo. É assim que Wilson da Costa Bueno se define em seu blog na internet (www.blogdowilson.com.br). Atual presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Científico (ABJC), Bueno, em entrevista concedida á UNIVERSO Humanas, conta como anda a divulgação científica no Brasil. As notícias não são tão agradáveis. Apesar do crescimento que tem se visto nos últimos anos, ainda temos um caminho longo a percorrer.

P: A população está interessada na divulgação científica?

R: Depende do nível de informação dessa “população”, mas em princípio temas científicos chamam a atenção, particularmente quando são espetaculares. O fundamental é mudar essa situação, com uma cobertura competente e regular da ciência e da tecnologia. Há excelentes pautas para serem divulgadas.

P: Como a mídia tem divulgado a ciência ultimamente?

R: Há dois cenários possíveis. A mídia especializada ou que dispõe de profissionais capacitados para essa divulgação tem realizado um trabalho competente, de qualidade, mas em geral há problemas com a divulgação na imprensa brasileira, ainda carente de profissionais e sobretudo pela visão equivocada de editores e empresários da comunicação com relação à importância da divulgação científica.

P: Como fazer para que esses empresários da comunicação deem mais atenção para a divulgação científica?

R: Não é uma tarefa fácil, e é fundamental que os jornalistas comprometidos com a divulgação científica façam um bom trabalho de convencimento interno nas redações.

P: O jornalismo científico tem avançado nos últimos anos?

R: Bastante, em particular na Web, onde novos espaços têm sido abertos para a divulgação da ciência e da tecnologia.

P: E a qualidade, também aumentou?

R: Sim, sobretudo pela melhor capacitação dos jornalistas, embora tenhamos ainda muitos desafios a vencer. Além disso, algumas universidades e institutos de pesquisa têm se dado conta da importância de democratizar o conhecimento científico e implantado estruturas profissionais de comunicação.

P: Se há um crescimento de cursos especializados e o interesse em ciência tem aumentado, o que falta para a divulgação científica ser ampliada e melhorada?

R: Falta envolver, no caso brasileiro, um número maior de veículos e sensibilizar editores e empresários. Mas ela tem sido ampliada e melhorada ao longo do tempo, em particular neste século.

P: Qual a qualidade dos cursos que estão surgindo?

R: Os propostos por universidades de prestígio (como, por exemplo, Unicamp) são de bom nível, e há boas propostas que deverão ser implementadas em breve.

P: Por que o interesse, principalmente dos universitários, no jornalismo científico tem aumentado?

R: Pela emergência de temas de relevância, como células-tronco, mudanças climáticas, nanotecnologia, transgênicos etc etc. Enfim, a ciência e a tecnologia ocupam hoje papel importante na vida dos cidadãos e impactam o seu mundo.


P: O que um estudante universitário pode fazer para contribuir para o desenvolvimento da divulgação científica?

R: Buscar informações qualificadas sobre os temas que estão na agenda da mídia e da sociedade, identificar fontes para essa cobertura, ler textos básicos sobre história, sociologia e filosofia da ciência e sobre o sistema de produção científica. Será fundamental acompanhar o dia-a-dia dos principais centros de excelência nessa área no Brasil. Isso é possível com uma boa navegada pelo site das nossas principais universidades e centros produtores de conhecimento. Ler as revistas de divulgação científica (Ciência Hoje, Revista Pesquisa FAPESP, Minas faz Ciência, Galileu, Super Interessante, Scientific American Brasil) é também uma maneira de acompanhar a área.

P: O jornalismo científico hoje no Brasil não fica muito restrito a pautas que estão ligadas a outros países?

R: Depende. Nos veículos que mantêm editorias e profissionais capacitados para esta cobertura, a ciência e a tecnologia brasileiras já ocupam um espaço e tempo importantes, mas, em geral, você tem razão: estamos ainda a reboque da notícia e do material importado.

P: Como a mídia poderia melhorar a cobertura da ciência produzida no Brasil?

R: Capacitando os profissionais para essa cobertura, abrindo tempo e espaço para a divulgação científica e, sobretudo, exercendo o papel que dela se espera do ponto de vista da formação dos cidadãos.

P: Os estudos acadêmicos tem alguma divulgação por parte da mídia?

R: Tudo depende da estrutura do instituto de pesquisa ou da universidade onde os estudos são realizados. As universidades paulistas (USP, Unicamp e Unesp) fazem uma boa divulgação de suas pesquisas (mas ainda aquém do ideal), alguns institutos e empresas de pesquisa são absolutamente competentes nessa divulgação (casos da Embrapa e da Fiocruz). Em geral, como as estruturas de divulgação são tímidas e falta consciência da importância da divulgação científica, não se pode generalizar mesmo. O panorama geral a esse respeito no Brasil não é favorável, muito longe disso.

P: As universidades brasileiras têm produção científica suficiente para a mídia cobrir?

R: Muito mais do que a mídia precisaria para dar um espaço digno para a ciência e a tecnologia nacionais. Elas não têm, em geral, embora estejam melhorando com respeito a este aspecto, estruturas ágeis e competentes para disseminar os resultados de pesquisa e os seus projetos, mas o problema não é mesmo produção.

P: Uma melhor estrutura de divulgação por parte das universidades poderia fazer com que a dependência de matérias "importadas" diminua?

R: Com certeza, essa é certamente a melhor alternativa para incrementar a divulgação da pesquisa brasileira. O problema não são as matérias importadas, mas a ausência maior de boas pautas nacionais, sobretudo as que se originam fora do eixo Rio/São Paulo e das universidades de maior prestígio (USP, Unicamp, Unesp, UFRJ etc).

P: Por que o jornalismo científico fica restrito aos fatos sensacionais?

R: Por um viés da mídia e falta de consciência dos editores e empresários da comunicação. O sensacionalismo infelizmente ainda predomina na cobertura.

P: Quais são os perigos éticos que um jornalista que trabalha com ciência terá de enfrentar?

R: Há interesses de toda ordem rondando a produção e a divulgação científica. Posso apontar interesses privados (indústria da saúde, da biotecnologia, agroquímica, de papel e celulose etc etc), interesses políticos, militares etc. Há fontes aparentemente independentes, mas que são bocas alugadas de grandes corporações. Logo, todo cuidado é pouco.

P: Como o jornalista que trabalha com ciência pode identificar os interesses de empresas e governos e fugir deles?

R: Confrontando as fontes, buscando identificar os compromissos dos pesquisadores que escrevem ou dão entrevistas para a mídia, tendo maior conhecimento do tema que vai ser coberto etc. Em princípio, toda informação deveria merecer este tipo de crivo. Há muitos interesses (comerciais, políticos, militares, econômicos etc) em jogo nesta área.

P: Você afrima em um de seus artigos que o jornalismo científico tem que investigar mais. Como o jornalista pode fazer essa investigação do assunto?

R: A principal investigação a ser feita é sobre os interesses de quem está gerando a informação científica. Como mencionado na resposta anterior, há interesses de toda ordem em jogo, e governos e empresas privadas são agressivos no sentido de vender pautas que os favorecem.

P: Como é a divulgação científica em outros países?

R: Em alguns países (Estados Unidos, Japão, França ,Espanha, Alemanha, Reino Unido, para só citar alguns exemplos), há uma consciência maior sobre a importância da divulgação científica, e institutos de pesquisa e universidades estão interessados em divulgar seus resultados e projetos porque sabem que, com isso, legitimam a sua atuação. Os bons jornalistas científicos brasileiros, no entanto, nada ficam devendo aos colegas de outros países.

P: Por que institutos de outros países têm mais interesse em divulgar suas pesquisas do que os brasileiros? Existe algum receio por parte das nossas instituições?

R: Não, não há receio em geral (embora isso possa acontecer pontualmente), mas há mesmo uma falta de cultura de comunicação. No Brasil, com raras exceções, não há interesse ou disposição para compartilhar as informações especializadas com o público leigo. Não se valoriza a divulgação científica; pelo contrário, posso afirmar que há até preconceito de determinados segmentos e do próprio Governo (apesar do discurso contrário) com respeito sobretudo ao jornalismo científico.

P: Por que ocorre esse preconceito do Governo quanto ao jornalismo científico?

R: O preconceito não é bem do Governo, mas de pesquisadores que trabalham para o Governo e que não conseguem se comprometer com a divulgação e com o jornalismo científico porque não julgam importante o diálogo com a sociedade.

P: A divulgação de estudos na área de humanas é menor do que de outras áreas?

R: Absolutamente menor e isso se deve tanto ao predomínio das chamadas “ciências duras” e ao preconceito em relação às ciências humanas. Nas relações de poder, as engenharias, as ciências físicas e biológicas prevalecem na direção dos institutos, nas prioridades de investimento em pesquisa etc. Há veículos que não dão às chamadas ciências humanas o estatuto mesmo de ciências.

P: E a produção de pesquisas na área também é menor?

R: A produção de pesquisa na área de Humanas pode não ser menor, mas tudo depende mesmo de quem avalia essa produção. Em princípio, há também preconceito com respeito às Humanas, sobretudo por colegas de outras áreas que costumam usar seus "instrumentos" para avaliar a relevância das pesquisas na área. Devemos também ter culpa no cartório.

P: O que a ABJC faz para melhorar essa divulgação da ciência?

R: Para ser sincero, temos feito muito menos do que deveríamos fazer, seja por falta de estrutura ,seja porque temos sido acomodados ao longo do tempo. Estamos despertando agora para esse papel, que temos cumprido apenas em parte. Realizamos eventos, ampliamos o debate sobre a capacitação na área, mas é preciso reconhecer, precisaríamos fazer muito mais. Jornalistas e professores costumam ser muito ocupados, e este é sempre o nosso caso, mas acho que não nos empenhamos o suficiente e não temos tido competência para mobilizar mais gente. Quem sabe, com gente jovem chegando,a gente consiga oxigenar a ABJC e dar um salto qualitativo nessa contribuição.
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http://www.youtube.com/watch?v=i-1_C05fLns

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Site da semana - Game Over

Eu sou um grande apreciador do vídeo-game. Acho que assim como livros, filmes e músicas fazem parte da nossa cultura. Como ele ainda é muito novo, enfrenta muita resistência de muitos conservadores, mas de fato isso vem mudando com o tempo. Vários estudiosos já colocam o vídeo-game como um grande influenciador cultural. Para se ter ideia, a mídia mais vendida no mundo no último ano foi um jogo, o Hallo 3.

Uma das muitas razões para muitos amaldiçoarem os games é que eles servem como forma de matar tempo no trabalho. Bom se isso é verdade, então aquela pessoa realmente não tem nada para fazer na empresa, porque as empresas não diminuem a carga horária então? Mas isso é assunto para outro post, pois o site da semana é justamente para esses que querem matar tempo no trabalho, ou aqueles que já se encheram dos mesmo jogos. O Kongregate é uma espécie de YouTube dos games. Lá qualquer um pode postar um jogo que tenha feito. Produto cultural ou não, uma coisa é certa: o vídeo-game é o símbolo de nossa geração. Bom jogo!

http://www.kongregate.com/

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Novidades da astronomia

Nesta segunda-feira, um astrônomo amador australiano noticiou algo de errado com o planeta Júpiter, uma grande mancha branca no pólo sul do planeta. Depois de alguns estudos preliminares, os astrônomos descartaram a hipótese de um fenômeno metereológico comum do planeta. A teoria mais provável é que um cometa de tamanho semelhante ao planeta Terra tenha colidido com o gigante gasoso.

Mais uma vez Júpiter pode ter salvado nosso planeta. Por ter uma massa muito grande (maior que a de todos os outros planetas juntos) o planeta age como um imenso (e bota imenso nisso)imã, que atrái asteróides para a sua órbitra, evitando que colidam com a Terra. Mais uma evidência de que a vida na Terra pode ter sido só um acaso apenas mesmo, porque se não houvesse Júpiter, muito provavelmente a vida aqui seria inviável já que seríamos atingidos por grandes objetos com mais frequência, mas enfim, o fato é que estamos aqui e devemos muito ao nosso "guarda-costas" estelar.

Aproveitando o assunto, ocorreu ontem o eclipse solar mais longo que veremos nesse século. O fenômeno só pode ser observado na Ásia e algo semelhante só vai voltar a ocorrer daqui á 123 anos! Quem viu viu, quem não viu fica com as imagens.


Planeta Júpiter sendo atingido (Foto: NASA)


Eclipse solar na Ásia (Foto: BBC)

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Parte 2 - http://www.youtube.com/watch?v=RvzxyBf2sn4

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segunda-feira, 20 de julho de 2009

Feliz 40 anos de homem na Lua!


Símbolo do projeto Apollo, NASA

Há exatos 40 anos, dia 20 de julho de 1969, o mundo parava para ver, ou ouvir, a chegada do homem á Lua. Quando Neil Armstrong disse a famosa frase "um pequeno passo para o homem mas um grande passo para a humanidade", a raça humana conquistava a barreira do espaço sideral, provamos que éramos capazes de ir além e o céu não era mais o limite.

Mas é claro que houve, e ainda há, pessoas que não acreditaram e não acreditam nisso, que acham que foi uma invenção, que acham que os Estados Unidos enganaram cientistas do mundo inteiro durante anos, mas não aos incrédulos, que apesar de não terem nenhuma formação científica criticam a ciência dos outros, o que é bem normal na ciência. Quem nunca ouviu um estudo científico e, apesar de saber que a pessoa autora do projeto passou meses, até quem sabe, anos pesquisando o assunto para chegar aquela conclusão e alguém desmonta tudo com um "ah, isso é bobagem". Infelizmente a ignorância ainda reina no mundo.

A chegada do homem á Lua não foi uma conquista americana, foi uma conquista da ciência humana, assim como a descoberta das ondas de rádio, da criação do avião, das teorias da física, do desvendamento do genoma humano, do desvendamento da nossa mente e de todas as outras descobertas científicas, tudo isso não tem nacionalidade é de todos nós.

A propagação da "notícia" de que o homem não havia ido á Lua não partiu de nenhum soviético querendo desmerecer os americanos, mas sim de um próprio americano, aliás de americanos, que viam aquilo como uma afronta á Deus, já que Deus estava no céu e o homem nunca poderia chegar lá. Se isso fosse verdade, você provavelmente não estaria conectado ao mundo agora através de celulares, Internet e tampouco usaria GPS, que dependem em algum momento de um satélite que está em órbita ao redor da Terra.

Argumentos contra, falam que não havia tecnologia, que foi uma farsa, mais um filme de ficção e que se fosse verdade, porque só foram uma vez? Todos argumentos que só mostram a total e completa ignorância no assunto.

Primeiro que em 1945 o homem mostrava que a ciência também poderia ser mortífera ao lançar a bomba atômica em Hiroshima, matando centenas de milhares de pessoas. Agora fica a pergunta: Se tínhamos tecnologia suficiente para destruir o mundo será que não teríamos para ir á Lua? Além disso, o programa lunar não começou do nada. Os Estados Unidos tiveram dois programas espaciais antes do Apollo, o Mercury e o Gemini. Após anos de estudos, de gastos astronômicos, desenvolvimento de tecnologia específica (muitas que hoje estão em seu PC) e mortes de astronautas (no projeto Gemini ainda), o homem chegou á Lua no Apollo 11, e não foi só essa vez, foram lá uma dezena de vezes e só pararam de ir porque não era mais vantajoso gastar milhões de dólares para trazer mais pedras lunares.

Quanto a ser um filme de ficção é uma ideia bem interessante mesmo, porque se fosse, teria sido o mais real da história, enganou cientistas, milhões de espectadores e até os soviéticos, que poderiam usar isso para ridicularizar os americanos. Mas se fosse, então Yuri Gagarin quando disse que a Terra era azul e branca, poderia estar encenando também, afinal ir ao espaço e ir á Lua não é lá tão diferente (apenas 4 dias de viagem até a Lua). Depois de anos de gastos, como já disse, astronômicos, garanto que daria para fazer uma super produção muito mais elaborada do que a simples ida do homem á Lua, porque não ir á Marte então?

Enfim, a 40 anos o homem chegava á Lua, você acreditando ou não. Assim como ondas de rádio existem, você acreditando ou não, assim como navios de toneladas flutuam no oceano por causa de uma misteriosa força chamada empuxo, você acreditando ou não, assim como um avião de toneladas voa ignorando completamente a ação da gravidade, você acreditando ou não. Existem coisas muito mais absurdas do que ir a Lua que acontecem mas que não nos damos conta. Ir a Lua não é difícil. O que é difícil é acabar com a ignorância humana.

Naquela mesma década o mundo viu mais acontecimentos incríveis, e muitos deles tendo os Estados Unidos como protagonistas como a Guerra do Vietnã e o movimento dos direitos civis liderado por Martin Luther King. A luta de Luther King era contra a ignorância humana, contra a cegueira que impedia aquelas pessoas de verem que nós éramos todos iguais, que estávamos todos no mesmo barco, no mesmo, como Carl Sagan falou, pálido ponto azul, que só sabemos que é azul porque fomos ao espaço. O que isso tem a ver com a chegado do homem á Lua? Além de terem acontecido na mesma época, nada, mas o que podemos concluir disso é que não ver a verdade está muito mais ligado ao ser humano do que imaginamos. Podemos mudar o mundo, mas para isso temos que acabar com esse reino da ignorância.

Acredite no que quiser, mas nunca se esqueça que essa conquista também é sua.

Here Men From Planet Earth First Set Foot Upon The Moon. July 1969 A.D. We Came In Peace For All Mankind.
(Aqui os homens do planeta Terra pisaram pela primeira vez na Lua. Julho de 1969. Viemos em paz, em nome de toda a humanidade).

Frase da placa que a Apollo 11 colocou na Lua.

sábado, 18 de julho de 2009

Você acredita em zumbis?

por Rikardo Santana da Silva

A idéia dos mortos-vivos já foi abordada por diversos livros, filmes e jogos, além de habitar o imaginário popular. Mas será que de fato estes seres existem? Se você assistir ao documentário “Os mortos andam”, ele mostrará que sim, eles existem. Usando os mesmo elementos de um documentário “normal” é possível construir uma realidade. Você acredtita em tudo que vê?

Em junho de 2007, na cidade de Curitiba, sete jovens morreram de uma forma um tanto diferente e horrível. Eles foram devorados. Foram devorados por mortos-vivos. Você não acredita? Pensa que é bobagem? Pois saiba que casos como esses não são tão difíceis de ocorrer e que os zumbis estão mais vivos do que você possa imaginar.

Apesar de serem poucos, os ataques de zumbis costumam serem devastadores e raramente deixam sobreviventes. Neste episódio, acima citado, foi uma das exceções em que alguém se salvou para contar a história. Camila Dias perdeu sete amigos naquele fatídico dia e conta como ocorreu o acontecido: “É, os zumbis grunhiam e batiam nas portas, nas janelas e quando eu vi que eles iam entrar eu me escondi num banheiro, e foi por isso que eu sobrevivi, mas todos os meus amigos morreram, foram comidos e, mesmo assim, ainda tem gente que não acredita que os zumbis existam que não pensa em combatê-los”, relata.

Neste momento o leitor deve estar se perguntando se de fato comprou uma revista científica, se quem está escrevendo a matéria não ficou louco com tanto trabalho para fazer ou algo do tipo, mas lhe garanto no final desta matéria você irá compreender completamente sobre o que se trata esta reportagem, mas primeiro vamos descobrir como os zumbis surgem, como atacam e como podemos nos prevenir e nos defender.

Os zumbis.

Camila ficou tão traumatizada que resolveu fazer em seu trabalho de conclusão de curso (TCC) em jornalismo pela Universidade Positivo (então Centro Universitário Positivo) o vídeo documentário sobre os zumbis “Os mortos andam”, onde ela mostra como os estes seres atacam suas vítimas e as precauções que devemos tomar . “A mídia não faz a cobertura que deveria fazer sobre isso. Pessoas estão morrendo e ninguém sabe”, desabafa Camila.

Para fundamentar sua pesquisa, a autora usou um livro muito conhecido daqueles que acreditam na existência dos zumbis e que mostra como combatê-los. O nome do livro é “The Zombie Survival Guide” (O guia de sobrevivência contra zumbis) de Max Brooks. No livro, Brooks mostra meios de proteção e defesa em caso de ataques.

O cinema tem uma extensa lista de filmes que falam sobre zumbis. Jogos de vídeo games também freqüentemente utilizam estes seres como personagens. Mas isto é apenas ficção. Os verdadeiros zumbis não são como os retratados nestas obras ficcionais. Segundo Brooks, os mortos-vivos não têm uma capacidade física elevada e muito menos são inteligentes. Por serem corpos em decomposição, são frágeis e pouco perigo representam quando estão sozinhos, o perigo é quando andam em grupo que é quando acontece as tragédias.

Mas o que faz um zumbi virar zumbi? Camila explica, através do livro de Brooks, que um vírus chamado Solanum infecta o ser humano a partir da mordida de um zumbi ou se algum fluído do infectado cair em uma ferida do indivíduo saudável. O vírus foi descoberto em 1955, pelo doutor Jan Vanderhaven, considerado o primeiro zumbologista (especialista em zumbis) do mundo. A partir da infecção começa uma reação que em cerca de 23 horas irá transformar o ser humano em um morto-vivo, como pode ser visto no quadro acima. A grande diferença dos corpos dos zumbis para os nossos, além do fato de estar em decomposição, é sua independência de oxigênio e sua vontade incontrolável de comer carne humana. Mas como podemos nos proteger destes seres?

Camila sobreviveu porque se escondeu no banheiro e assim os zumbis não a encontraram, mas na verdade, todos os seus amigos poderiam não ter morrido se tivessem prestado atenção nos sinais de que existem zumbis por perto, como epidemias estranhas ou mortes inexplicáveis. Mas eles também poderiam prevenir-se seguindo algumas dicas que a organização não-governamental Aliança Internacional Anti-Zumbis (IAZA, na sigla em inglês) recomenda, como trancar todas as portas e janelas, achar armas leves e guardar mantimentos.

Você ainda não está acreditando na história contada nessa matéria? Acha que a existência de mortos-vivos é uma bobagem? Acha que tudo isso foi uma invenção só para iludir sua mente? Então continue lendo a matéria e você terá algumas surpresas.

Construção da realidade

De fato zumbis não existem (será?), mas um TCC falando sobre zumbis não foi nenhuma invenção. Camila Dias de fato fez um vídeo documentário falando sobre o perigo dos zumbis, contando a história daqueles sete jovens que morreram e se colocando como personagem da história. A única invenção aqui foi a frase de Camila justificando seu trabalho, dizendo que a mídia não mostrava o perigo dos mortos-vivos, seu real objetivo era outro. “Espero que meu documentário sirva como um alerta. Se a informação é o mais importante, não entupa seu produto de apelos emocionais, música triste e personagens criados”, agora sim relata a autora. Mas o que isso quer dizer?

O que a autora quis mostrar com esse documentário é que a realidade pode ser criada. De fato foi mostrado o ataque dos zumbis, uma organização não-governamental que lutava para defender as pessoas destes seres foi ouvida e outros “especialistas” que embasavam a idéia de que os mortos estavam de volta á vida, tudo como acontece em um documentário ou em uma matéria jornalística, mas era tudo falso.

O livro de Brooks de fato existe mas é claro que é uma obra ficcional. Camila queria fazer algo diferente em seu TCC e como já conhecia o livro usou-o para criar esta história. “Eu não gostava dos produtos convencionais, aquelas coisas que sempre aparecem nas conclusões de curso de jornalismo e resolvi fazer um documentário sobre zumbis. Eu gosto de zumbis, filmes e livros , foi do livro de Max Brooks que eu tirei a idéia do projeto. Foi divertido fazer isso. Eu passei o ano achando que minhas chances de reprovar eram grandes. Eu prefiro a fundamentação teórica, mas não sei se o resultado seria o mesmo sem o documentário. A parte escrita e o produto são bem complementares. Mas na verdade o melhor resultado foi ver a cara de algumas pessoas assistindo aquilo e aceitando”, comenta Camila.

Para fundamentar seu trabalho, a autora recorreu a um estilo diferente de documentário: o mock-documentary, um estilo de documentário que constrói uma realidade com os elementos do documentário. Para Camila esta foi a maior dificuldade do seu TCC. “Provar que meu falso documentário é um produto jornalístico foi a maior dificuldade que eu tive. Afinal, ele mostra que as convenções usadas em muitos documentários considerados sérios podem ser subvertidas. Outra dificuldade foi achar material sobre falsos documentários”, conta.

Existem três estilos de mock-documentary, e todos estão presentes no trabalho (veja no box na página z). Este estilo de documentário foi utilizado pois mostra a fragilidade da estrutura da construção da realidade proposta pelo jornalismo. Se é possível usar esta estrutura para fazer uma história absurda como a dos zumbis, não é também possível que uma matéria jornalística, que utiliza da mesma estrutura, seja falsa? É este o grande questionamento do estudo.

E agora?

Este texto começou com uma história de mentira e depois passou a contar a verdade. Será? Como podemos confiar que tudo que vemos de fato aconteceu, que aquilo não é apenas uma história criada para nos iludir? Segundo a autora não devemos ficar pensando muito nisso, devemos apenas saber que há de fato uma manipulação naquelas informações. “Eu acredito que todo produto reflete, de alguma forma, a opinião e as escolhas de seu autor/diretor. Eu sugiro que nem tente tentar identificar esta construção, só acredite no que você viu, sabe, tem como provar. O resto é resto ou diversão”, comenta.

Ainda segundo a autora, é muito difícil existir um documentário que não possa ter sua credibilidade subvertida. “Depende de quem analisar ou interpretar o produto. A maioria dos públicos não percebe o que pode ou não ser manipulado ao ver um documentário convencional, no entanto, quando um documentário é claramente falso, as pessoas têm mais facilidade de assimilar como aquelas informações foram manipuladas. O falso documentário dificilmente engana alguém por muito tempo, dá pra dizer que é o formato mais verdadeiro”, afirma Camila. Ou seja, se o documentário for de fato verdadeiro, resistirá a questionamentos ou a prova do tempo.

Camila ainda conta que o próprio jornalismo se utiliza disto. “Alguns artifícios usados já são praticamente clichês. Figuras sérias e respeitáveis transmitem notícias, a voz das narrações fala com convicção, música, iluminação e edição de imagens criam o clima desejado. Até animações e reconstruções de fatos são associadas a acontecimentos e processos com a mesma seriedade que teriam as imagens feitas no momento em que tais fatos e processos acontecem”, finaliza a autora.

Se você ainda acha que esta história de construção da realidade é uma bobagem e que nunca seríamos enganados por algo tão falso como ataque de zumbis, saiba que algo semelhante já aconteceu. Em 1938 o norte-americano Orson Welles fazia um programa de rádio em que fez uma adaptação do livro “A Guerra dos Mundos” de H.G Wells. As pessoas que ouviam o rádio achavam que o relato era verdadeiro, e que de fato alienígenas estavam invadindo a Terra, criando pânico e histeria. O que o estudo mostra é que devemos sempre desconfiar do que nos é passado e não pensar que aquilo é a verdade absoluta, assim com dizer que de fato os zumbis não existem.

O mock-documentary está dividido em três estilos que são:

1 – Paródia
É uma documentário paródia que usa os mesmos elementos de um documentário comum mas de uma forma cômica.

2 – Crítica
Apesar de também ser ficção, este estilo se preocupa mais em fazer com que o espectador reflita sobre como os assuntos são abordados pela mídia

3 – Desconstrução
Estes documentário são mais focados em uma crítica ao próprio modelo como são feitos os documentários.

Fonte: Jane Roscoe e Craig Haight, Faking it: Mock-documentary and the
subversion of factuality.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Direita volver

por Rikardo Santana da Silva

O Brasil também teve uma direita fascista

Em 1930, o Brasil viveu uma revolução que pôs fim à chamada República Velha. Essa revolução colocou como chefe do governo provisório Getúlio Vargas. Após algumas mudanças, Vargas se tornou Presidente e ficou no poder até 1945. Esse período foi bastante conturbado, com crises econômicas e a 2ª Guerra mundial. Um pensamento político que se destacou na época foi o fascismo, que no Brasil teve uma vertente chamada de integralismo. Os integralistas eram contra os comunistas e os liberais e chegaram a ajudar Vargas em sua manutenção no poder.

Apesar de fazerem parte da história brasileira, essa direita fascista ainda era pouco explorada, pelo menos de acordo com Edgar Serratto, autor da dissertação em história pela Universidade Federal do Paraná “A ação integralista brasileira e Getúlio Vargas: Antiliberalismo e anticomunismo no Brasil de 1930 a 1945”. Serratto acredita que o período era mais definido. “A impressão que temos é que naquela época o mundo era mais idealizado. Era tudo bem claro, existia direita, existia esquerda coisa que hoje em dia a gente não vê mais”, lamenta Serratto.

Naqueles anos, Getúlio Vargas chegou a receber o apoio dos integralistas, com ajuda na elaboração do Plano Cohen, um documento que forjava uma tentativa de tomada de poder pelos comunistas, que levou à instalação do Estado Novo. Mas Vargas não apoiava esse movimento de direita, tanto que o colocou na ilegalidade. “Vargas queria, sobretudo, se manter no poder. Ele fazia discursos contra os liberais no início do seu governo, depois fez contra os comunistas e no final, quando o Brasil entrou na guerra, discursava contra os fascistas”, conta Serratto.

Essa análise mostra como os discursos do antiliberalismo e do anticomunismo tinham algo em comum, pois para os integralistas os comunistas eram semelhantes aos liberais, pois ambos tinham uma ideologia materialista. Esses discursos podem ser observados nas bibliografias dos principais integralistas brasileiros (Plínio Salgado, Gustavo Barroso e Miguel Reale) que foram estudados pelo autor.

A ascensão da direita fascista no Brasil (os integralistas chegaram a ter um milhão de filiados) ainda é pouco tratado hoje em dia, de acordo com o autor. “É uma coisa que faz parte da nossa história. Vargas flertava muito bem com essa direita, no entanto, a visão que se tem de Vargas é boa, e a daquela direita não, por isso é preciso ter um olhar mais cuidadoso sobre os assuntos. A política nem sempre é uma coisa superficial. Você não pode simplesmente jogar um discurso numa posição ideológica ‘x’, pois temos que parar para pensar em todo esse flerte que tem por trás e aprofundar todas essas questões”, diz Serratto.

PIT STOP

Trigéssima edição do programa PIT STOP. Acompanhe mais no blog: www.programapitstop.blogspot.com

http://www.youtube.com/watch?v=e4LAmDOGCOY

quinta-feira, 16 de julho de 2009

A negação do problema

Desde a implementação das cotas raciais nas universidades federais, várias dúvidas surgiram sobre a necessidade das mesmas e muitos
argumentos foram colocados, muitos deles sem nenhum fundamento ou relevância. Para ajudar nesta questão, um projeto está sendo feito na UFPR com o intuito de mostrar a realidade da situação dos cotistas e para mostrar que o preconceito existe na vida destas pessoas.


por Rikardo Santana da Silva

No ano de 2005, a Universidade Federal do Paraná (UFPR) instituiu o sistema de cotas raciais na instituição. O fato foi considerado por muitos como discriminatório como algo que fere o princípio da meritocracia ou que era um racismo que poderia instituir um apartheid no Brasil. Do outro lado, os defensores mostraram que a representatividade do negro na UFPR era mínima, muito abaixo do percentual da população e que a formação superior beneficiava apenas uma parcela da sociedade.

No meio de toda essa discussão se esqueceram do fator principal: o ser humano. Ninguém se perguntou como os cotistas se sentiam a respeito da situação que estavam vivendo e muito menos sua condição como negro no Brasil ou em Curitiba. O mito da “democracia racial” impera nas discussões como se nosso país fosse livre desse mal.

Por considerar estes argumentos muito superficiais e pouco conclusivos para um tema tão complexo e para mostrar um pouco o que é ser negro na cidade, o professor doutor Marcos Silva da Silveira está desenvolvendo um trabalho de extensão na UFPR em que, com a colaboração de 5 alunos, irá desenvolver, no curso de “Educação Étnico-Racial para Cotistas Raciais e Licenciados”, a cartilha “Memórias dos cotistas raciais da UFPR” destinada a alunos e professores do ensino médio, em que irá mostrar as experiências vividas pelos alunos.

Para produzir esta cartilha, os alunos se reúnem com o professor em reuniões na universidade, para aprenderem um pouco sobre as relações étnico-raciais da sociedade brasileira, e para que eles mostrem como ocorrem estas relações no cotidiano deles. Por perceber que os cotistas raciais da UFPR têm uma série de dúvidas a respeito da implementação das cotas, do racismo e do que a sociedade espera deles, este curso de extensão foi proposto para eles.

O projeto é desenvolvido pelo Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (NEAB) da UFPR e tem como objetivo mostrar de que maneira a política de cotas é vivenciada pelos próprios estudantes cotistas. Participam da oficina não só estudantes cotistas, mas também não-cotistas que estejam interessados, tentando mostrar o que mudou na vida destes estudantes, na sociedade e na universidade desde a implementação das cotas raciais, será a memória dos negros que se tornaram cotistas e suas percepções quanto a isso.

Silveira coloca que iniciou esta pesquisa a partir de uma pesquisa desenvolvida no curso de antropologia em 2005, sobre racismo. A partir dessa pesquisa houve um levantamento sobre o que as pessoas pensavam sobre as cotas raciais. Os resultados obtidos foram que a maioria das pessoas se posicionava a favor da idéia de cotas sociais, de alunos oriundos de escolas públicas, mas contrárias a idéia de cotas raciais.

Os argumentos usados pelas pessoas contrárias eram baseados em estereótipos criados pela mídia e sustentados por muitos discursos equivocados vindos das academias. A discussão não era aprofundada, além de que o perfil dos entrevistados, que era geralmente de classe médio alta pouco contato tinha com pessoas negras. Silveira então decidiu registrar as memórias destes cotistas “Eu achei que seria interessante porque nós sabemos muito pouco sobre os cotistas raciais”, constata.

A realidade dos cotistas

A partir da execução do projeto e da descrição das experiências dos cotistas, foi visto que a discussão sobre o tema, quando acontecia, ocorria de uma maneira superficial e com argumentos vindos do senso comum que desconsideravam a realidade dos fatos. O que foi constatado a partir disso foi que mesmo quando existia uma discussão mais profunda sobre o tema, ela não era verdadeira, pois as pessoas não falavam a verdade, o que podia ser provado com os relatos dos cotistas que contaram suas impressões das conversas fora de sala.

Jules Ventura é aluno do quarto ano do curso de Ciências Sociais e fez parte do primeiro grupo de cotistas raciais a entrar na UFPR. O estudante conta que quis participar do projeto por acreditar que a discussão não estava sendo levada á sério.“Tento trazer minha história de vida, da escolha de ser cotista. As pessoas geralmente fogem do problema ou tratam isso como se fosse simples, e não é, pois trata-se da vida de pessoas. Minha vida está sendo debatida”, desabafa.

Esta banalização no tratamento do tema levou ao desenvolvimento desta pesquisa, para mostrar não apenas os dados da desigualdade e do racismo, mas histórias sobre isso, contadas por aqueles que a sofreram ou que presenciaram, como o aluno do terceiro ano do curso de Ciências Sociais, André Marega. Ele percebeu que se falava algo e era feito outro. “Não batia o que se falava com o que se fazia. Eu nunca senti na pele, mas vi pessoas reproduzir esse racismo e de alguma maneira achei que esta divulgação das memórias daria um bom material de reflexão”, revela.

Se quando há a discussão já é um problema, pois, de acordo com a pesquisa e seus envolvidos, argumentos pouco aprofundados e visões que não correspondem necessariamente a realidade imperam, imagine então quando não há discussão nenhuma. Edvando Eduardo Gomes é aluno do quarto ano do curso de Engenharia Civil (um dos dois únicos negros numa turma de 150 estudantes) e diz que a palavra cotas ou racismo é um tabu em sua sala. “O meu curso é extremamente elitista e eu percebia um tratamento diferente vindo de outros colegas e até de professores, por eu ser cotista racial. Não se pode discutir o assunto na sala. Mesmo quando tento, o assunto é rapidamente abafado, criando uma tensão entre a turma. É necessário discutir para o clima ficar menos denso. Eu quero poder de alguma maneira levantar a discussão e fazer esse tema ser debate”, conclui.

A participação no curso também foi feita a partir da própria curiosidade do estudante, pelo menos foi o caso de Áurea Teixeira que diz que se interessou pelo projeto porque queria conhecer um pouco sua composição étnica. “Eu não conseguia entender minha composição étnico-racial e com todas as manifestações que ocorreram com a instauração das cotas eu procurei entender melhor a situação, entender o outro, porque eu não me sentia negra, é muito importante pra mim a participação nesse projeto. Comecei a entender mais profundamente esta situação, entender a experiência do outro”, define.

A quinta participante, Julia Conceição, já era, antes de entrar na UFPR, participante ativa de debates sobre questões raciais. “O projeto vem só somar com aquilo que acredito. É uma oportunidade de eu como negra poder participar, colocar minha subjetividade dentro desse espaço. A temática que estou discutindo é que nós não estamos falando de segmentos fechados e sim de seres humanos. As sensações que tive na vida me fizeram entrar nestes debates que tem discussão racial”, conta.

Julia ainda conta que as dificuldades do negro no Brasil não são apenas do acesso ao ensino superior, mas também de se ver como um cidadão e encontrar seu espaço na história. “As representações tem muito peso. Como a representação no nosso país fica nesse mito da democracia racial isso faz com que as pessoas pensem que de fato isso existe na prática. Os negros têm muita dificuldade de encontra suas raízes, pois elas foram muito pulverizadas. Todos sabem se são descendentes de alemão, japonês e italiano, mas aqui no país a ancestralidade negra fica colada na figura do escravo”, analisa Julia.

Como este projeto ainda esta em andamento, ainda tem tempo para saber se ele de fato irá gerar os resultados que seus participantes esperam. Mas o que de fato eles esperam? O que eles querem, e o que também Silveira quer, é que o debate seja de faro levado a sério e que passemos a nos interessar em entender o outro lado, mas isso é assunto para o próximo tópico.

Expectativas

Ao fim desse semestre será desenvolvida a primeira cartilha com as memórias dos cotistas, com a proposta de ser lançado um álbum com estas memórias com o título de “Memórias Étnico-Raciais dos Estudantes da UFPR”. Ao final disso, tanto Silveira quanto seu grupo de estudantes, esperam melhorar a condição do debate, fazê-lo ser mais fundamentado.

“O objetivo da pesquisa não é, de maneira nenhuma, obrigar as pessoas a aceitarem seus argumentos, mas sim mostrar que a discussão que atualmente acontece não é conduzida de maneira séria, pois não é levado em conta que se está falando da vida de pessoas e não de algo abstrato. Além de que o aprofundamento, a divulgação e a importância devida, não são dados ao tema” constata o pesquisador.

Silveira acredita que estas histórias podem mostrar às pessoas um lado mais humano e mais sólido das desigualdades. “As pessoas vão ouvir histórias das quais elas não têm acesso. O nosso papel é entender o problema. Mostrar essas histórias irá expor o que acontece na sociedade. As pessoas terão acesso a outro discurso, a novos elementos”, define.

Jules Ventura espera que a forma banal que o tema é tratado seja modificada. “Todo mundo tem alguma coisa á dizer, mas elas são viciadas. É preciso que haja uma melhor reflexão”. André também espera melhorar o debate. “O que a gente tem percebido com nossa pesquisa é a idéia de que esses argumentos devem ser aprofundados e não ser pensados no mesmo círculo de argumentos”. Edvando quer debater em sua sala. “Espero que a partir disso eu possa colocar debater no meu curso, pois apesar de não ter a ver com tecnologia tem a ver com pessoas, e são as pessoas que fazem a tecnologia”. Áurea acredita que a partir disto, a sociedade possa entender melhor a questão. “É preciso entender o outro saber de suas dificuldades, ou seja, conhecer nossa realidade”. Já Júlia quer que a questão seja superada porque hoje “a gente tem que provar primeiro que temos condição de sermos acadêmicos para depois termos condição de sermos o que quisermos”, finaliza.

O que o projeto pretende é redefinir os padrões de como a questão é tratada, pois, por muitas vezes as questões postas como argumentos para a contrariedade das cotas, levam a um pensamento de que a igualdade impera no Brasil, fato que é facilmente derrubado com uma simples ida a uma favela de uma grande cidade ou a uma universidade, como Jules coloca “muitas pessoas perguntam se a pobreza tem cor, quando a pergunta certa a fazer é se a riqueza tem”.

Site da Semana - Oh dúvida cruel!

Já dizia o filósofo que na vida nós só temos duas certezas: vamos morrer e vamos tomar decisões. Algumas são mais fáceis outras mais difíceis, mas no fim, seja pedindo conselhos, seja tirando no cara ou coroa ou seja dizendo "que se dane" e arriscando, sempre tomamos decisões.

Mas se você procura por uma nova ferramenta para ajudar na suas tomadas de decisões, eis que surge o "hunch". E o que seria "hunch"? O "hunch" é um site desenvolvido pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), que usa algoritmos matemáticos para lhe dar a melhor resposta para a sua pergunta. Funciona assim: Você faz uma pergunta (tipo, devo ser jornalista ou cozinheiro?) e aí o site te faz um monte de outras perguntas. Baseado em suas resposta ele lhe dá a melhor alternativa. Legal, não? Além do mais, vai dizer que você não gosta de usar sites antes que eles virem moda? Ah, mais uma coisa: o site é em inglês, então é uma ótima maneira de treinar o idioma Entre lá então e tire esse ponto de interrogação da sua cabeça.

http://www.hunch.com/

PIT STOP

Este é um programa sobre automobilismo idealizado pelo meu amigo Victor Paulino. Para quem gosta de esporte a motor é uma ótima maneira de se manter atualizado. Posto aqui os vídeos do último programa do qual participei. Quem quiser acompanhar aí vai o endereço do blog: www.programapitstop.blogspot.com


Parte 1:
http://www.youtube.com/watch?v=ROvS2DAgCMw

Parte 2:
http://www.youtube.com/watch?v=RjBomM5kayA

“Eu não consigo ficar satisfeito”

No final de tudo, é apenas mais um tijolo no muro

por Rikardo Santana da Silva

Na loja on-line da Apple está sendo vendido o programa “I am rich” (Eu sou rico), para o iPhone. O programa não tem nenhuma utilidade, apenas coloca um rubi no visor do celular e custa cerca de mil dólares. Em 1979 a banda britânica Pink Floyd lançou o álbum “The Wall”, que teve como música mais conhecida “Another Brick in The Wall pt.2”. A idéia do álbum veio do contra-baixista Roger Waters, ao perceber que as pessoas vinham aos seus shows não para ouvirem a música mas sim para beber e brigar, criando assim um muro entre eles. O álbum acabou virando um filme, “The Wall”, com direção de Alan Park. Mas o que Pink Floyd tem a ver com o iPhone?

Na verdade, não é sobre a relação de Pink Floyd e iPhone que esta matéria irá tratar, mas sim da relação entre consumo e construção de muro. Esse foi o tema de um trabalho de conclusão de curso de publicidade e propaganda da Universidade Positivo. Por ter uma interpretação diferente do filme foi que o estudante Diego Zerwes teve a idéia de fazer, junto com seus colegas de curso Camila Lopes, Renãn Araujo, Rodrigo Costa e Tatiane Kamikawa, uma análise do filme com base na psicologia: a monografia “A construção do muro da publicidade no filme The Wall, do Pink Floyd”.

Apesar de o filme não mostrar claramente marcas ou o personagem principal (Pink) consumindo, a questão do consumo é tratada no filme de maneira subjetiva. “Para fugir do muro criado pela mãe dele, Pink acaba criando um segundo muro, que o liberta, inconscientemente. Esse muro é o muro do consumo” conta Zerwea, um dos autores da monografia.

A partir da análise do filme, o trabalho discorre sobre o consumo, o por que consumimos e como a publicidade age nesse consumo. De acordo com os autores pesquisados no trabalho, o consumo é algo inerente ao ser humano, pois competimos uns com os outros e também queremos satisfação pessoal. “No filme Pink não aparece consumindo, mas em trechos da música fica evidente isso, como quando ele pergunta 'devo comprar uma guitarra nova?' Quer dizer que ele tinha uma guitarra”, constata Zerwes.

Segundo o estudo, a publicidade não tem papel tão forte na construção do consumo como é posto por muitos, pois ela apenas potencializa algo que já é natural no ser humano. “A publicidade é responsável por divulgar marcas e produtos. Dentro do modo de produção de massa, existem produtos, e as empresas querem vender e vender mais do que as outras. A publicidade apenas mostra esses produtos”, analisa Zerwes. Além disso o próprio consumo gera mais consumo, e como na música dos Rolling Stones, que também é título desta matéria e é usada no trabalho, as pessoas não conseguem ficar satisfeitas.

Na análise, o consumo também é tratado como um modo de identificação, como um diferenciador de grupo, como o pessoal que compra o “I am rich”. Além desta contribuição, de uma análise de caso sobre o consumo, o trabalho também mostra que é possível fazer não apenas análises de livros, mas sim de todo o tipo de manifestação cultural. “Como muita gente analisa diversas obras literárias, acho que é interessante também falar sobre outras formas de arte”, finaliza Diego. Então se você deseja falar sobre outras formas de arte ou cultura não tenha medo, pois, como Hobbes dizia, “o homem que vive deseja”.

terça-feira, 14 de julho de 2009

A teoria que nos igualou

por Rikardo Santana da Silva

Saiba um pouco mais sobre a teoria da evolução de Darwin que apesar de ter sido usado para nos separar, no fim mostrou que somos todos iguais.

Em 1831, um aspirante a reverendo, junto com vários outros teólogos, parte em uma viagem a bordo do navio Beagle ao redor do mundo com um propósito: provar a existência de Deus. Após 28 anos, este homem de fé acabou lançando uma teoria que foi completamente oposto ao propósito da viagem, uma idéia que acabou matando Deus, ou pelo menos a idéia de que Ele criou tudo e pronto.

No ano de 1859, o britânico Charles Darwin publicou o livro “A origem das espécies”, um livro que revolucionou a forma como pensamos a criação de nosso planeta. A teoria da evolução das espécies, descrita nesta obra, fala sobre como nós, e todos os outros animais do planeta, se transformaram no que são hoje, e não existe nada de “mágico” ou de divino nisso, tudo isso é apenas uma evolução natural.

A demora na publicação da teoria se deveu ao fato de Darwin ser um homem religioso. Quando percebeu que suas idéias poderiam destruir a crença de milhões de pessoas (incluindo a dele) ele adiou a sua publicação, até que tomasse definitivamente coragem para “matar Deus”. “A primeira grande transformação, causada pela teoria, foi a quebra brutal que houve entre ciência e igreja.”, conta o professor do curso de biologia da Universidade Positivo Eliseu Vieira. Mas o que esta teoria tem de tão especial para os cientistas e de “monstruoso” para os religiosos?

A teoria assassina

Primeiro a pergunta: o que é evolução? “Evolução é mudança, transformação, é quando uma espécie deixa de ser uma coisa e passa a ser outra. Um organismo com uma morfologia, após algumas transformações têm uma outra morfologia, melhores ou piores, depende do ponto de vista. Por exemplo, um cachorro é um bom caçador, tem um ótimo faro, nós podemos ser bons caçadores, mas não temos bom faro, temos inteligência para fazer lanças, por exemplo”, explica o professor Eliseu.

A evolução é como as diferentes espécies do mundo encontraram para se “fixar” no planeta, a máxima “os mais fortes sobrevivem”. Mas o “forte” não significa exatamente força. A evolução pode estar em ser mais pequeno, em ser mais ágil, em ter um bico mais longo, uma pata maior ou menor, ou em ter uma inteligência mais desenvolvida, nosso caso.

A partir desta constatação, a ciência começou a estudar os seres vivos com esse pensamento. A evolução mostrou que tínhamos todos, de uma certa forma, um ancestral comum, e isso foi benéfico para várias áreas. “A longo prazo a teoria trouxe uma compreensão maior entre os organismo, pois de alguma forma eles tem uma ancestral em comum. Eu posso fazer uma experiência de laboratório com um rato e presumir que o resultado seja parecido em humanos, pois somos mamíferos e por isso temos um ancestral em comum em algum momento no passado, possibilitando assim um desenvolvimento da medicina”, conta Eliseu.

Essa ação acaba colocando todos os animais, nós inclusos, no mesmo jogo. A teoria mostrou que nós somos apenas mais um animal adaptado ao meio, nada de mais. Não éramos mais o centro do universo muito menos o animal mais evoluído, somos apenas mais um dentre milhões de espécies. Além disso, a teoria mostrou que os animais não nasceram prontos do jeito que estão, quebrando a idéia da criação. Com isso, a teoria demorou a ser aceita, pois ela não matava apenas Deus, matava também nosso ego.

Para exemplificar a teoria vou usar um exemplo bem banal. Imagine que você esteja querendo pegar algo que caiu em uma pequena fresta. Você não consegue alcançar aquele objeto por que seu braço é muito curto. Então você pede ajuda a um amigo que tenha um braço maior, mas ele também não alcança, pois seu braço é muito grosso, então vem uma terceira pessoa que consegue pegar o objeto, pois seu braço é longo e fino. Agora imagine esta situação na natureza, e imagine que este objeto fosse um alimento, o único na região que sua espécie podia comer. O único que conseguiria pegar o alimento seria o indivíduo com o braço fino e longo, não importando se ele era mais forte, mais ágil ou mais inteligente, mas apenas aquela característica o faria passar mais descendentes enquanto você e seu amigo passariam fome e não gerariam descendentes. Portanto, os próximos da espécie terão todos braços finos e longos.

Estas situações ocorreram em todo o planeta das mais diversas formas possíveis e, os animais que sobreviveram hoje usaram modos diferentes de conseguir o que queriam (no exemplo anterior, por exemplo, nós poderíamos usar uma ferramenta, já que temos polegares e uma inteligência maior). Após bilhões de anos as espécies foram se adaptando as mudanças que ocorriam no mundo das mais variadas formas.

Entre eras glaciais, aquecimentos globais (sim, isso já aconteceu), asteróides e outros fenômenos naturais, as espécies que melhor se adaptaram dividem o mundo hoje conosco. E ponto final. Quer dizer quase. A teoria da evolução, apesar de ser comprovada, ser uma certeza científica, tem muitas lacunas em aberto, por isso é pesquisada até hoje. Várias outras ciências usam o darwinismo para explicar seus fenômenos. Das condições sociais de uma população aos buracos negros, tudo usa Darwin, ou usa Dawkins. Mas quem é esse Dawkins? É quem colocou um novo elemento na teoria.

Releituras

“A origem das espécies” diz que os seres mais bem preparados se adaptam e continuam as linhagens. Com isso, os mais bem adaptados ficam mais tempo na Terra, e nesse jogo somos totais retardatários, pois surgimos a pouquíssimo tempo, comparando com a idade do planeta. Tudo ia muito bem com esta idéia até que alguém ergueu a mão e disse outra coisa.

Na década de 70 uma teoria começou a ecoar no meio científico: a teoria do gene egoísta. Outro britânico, Richard Dawkins, mostrou um complemento ao darwinismo, que não existia porque Darwin não conhecia genética. “A seleção natural é um mecanismo como os organismos vão mudando com o tempo. Com o redescobrimento dos trabalhos de Mendell sobre genética, surge uma fusão com as idéias de Darwin, chamado de neodarwinismo”, explica Eliseu. Parte deste neodarwinismo é a teoria de Dawkins.

Para ele, a evolução acontecia simplesmente porque os genes queriam, o que matou ainda mais Deus (Dawkins é um ateu fervoroso) e matou ainda mais nosso ego, pois mostrou que além de não sermos nada em comparação ao universo e a evolução, somos apenas uma máquina comandada por genes.

A teoria do gene egoísta não mata Darwin como ele fez com Deus, mas a complementa, mostrando que quem esta no comando da vida são nossos genes. Isto fica bem característico com o mapeamento do genoma dos animais. A porcentagem de genes parecidos que temos com animais que hoje habitam o planeta, mostra que há algo em comum conosco, e que os genes tem alguma ligação nisso. Tudo em nossas relações está ligado nisso, até mesmo o sexo, que é apenas uma forma melhor que os genes encontraram de continuarem no planeta.

Imagine uma bactéria. Virtualmente ela é imortal, pois se reproduzem de forma assexuada, dividindo-se em duas. Se em alguma dessas divisões houver um erro, este erro será passado para todas as outras, fazendo com que estes genes sejam perdidos, pois não sobreviveriam às mudanças. O sexo então foi usado para que, se houvesse um erro em um gene, ele pudesse ser corrigido com o relacionamento com seres diferentes, que não tem estes erros, anulando-os ou os fazendo hibernarem.

A teoria também mostra que a “briga” não é entre espécies, mas sim entre indivíduos, comandados pelos seus genes que querem ser passados adiante. Esta evolução da teoria da evolução só pôde acontecer a partir do momento que passamos a estudar a genética e ver que somos todos iguais sobre a perspectiva genética, pois temos os mesmos genes, mas teve gente que não pensava assim.

Darwin assassino

Mas Darwin também foi usado para dizer completamente o contrário, que somos diferentes e que alguns são superiores a outros. O darwinismo social foi algo que vigorou no início do século XX e que foi usado como uma arma de destruição em massa pior que a bomba atômica, pois foi a partir desta idéia “científica” que surgiu o nazismo e a eugenia, que matou milhões de pessoas em nome da superioridade e da seleção natural.

Este uso errado das ciências biológicas pelas ciências humanas tentava explicar porque alguns grupos de pessoas eram mais inteligentes que outros, numa teoria tão científica quanto aquela que dizia que um homem era rei porque Deus queria. Esta idéia esta hoje derrubada dos círculos das ciências sociais, mas o estrago que ele fez ainda hoje podem ser sentidos, talvez mais do que os efeitos da bomba de Hiroshima.

A teoria de tudo

Outras ciências usaram o darwinismo durante os últimos anos para explicar seus fenômenos, e uma delas é a astronomia. Nos últimos anos, uma teoria tem falado sobre a seleção natural feita em termos universais, ou seja, entre planetas, estrelas e até mesmo galáxias. Segundo a matéria “Evolução da evolução” publicada na revista Superinteressante de junho de 2007, o físico norte-americano Lee Smolin fez uma teoria que trouxe Darwin para a física quântica. Segundo esta teoria, todo o universo é uma seleção natural.

Antes de existir tudo, não existia nada. Quer dizer existia, mas em um minúsculo ponto. Um dia este ponto explodiu e criou tudo o que conhecemos. Hoje o universo está repleto de pontos assim que sugam tudo que está em volta para eles, incluindo o tempo. São os buracos negros. E o que isso tem a ver com Darwin? Smolin acredita que na verdade nosso universo é apenas um dentre muitos que existem num lugar chamado de multiverso.

Neste multiverso, quem conseguir gerar mais universos têm mais “descendentes” e como os buracos negros são parecidos com o ponto que deu origem, Smolin concluiu que os buracos negros seriam big-bangs que criariam novos universos neste multiverso, o universo com mais buracos negros teriam mais “descendentes” neste multiverso, e é aí que entra o darwinismo.

Um buraco negro, em síntese, é uma estrela morta. Com isso, para se ter mais buracos negros são necessárias mais estrelas, e para se ter estrelas são necessárias nebulosas, um berçário das estrelas. Para que as nebulosas gerem mais estrelas, segundo a matéria da Superinteressante, elas precisam ser frias e para que isso ocorra é necessário carbono, que é o elemento primordial para se ter vida, e graças a esse empenho do universo em ter mais “filhos” do que os outros é que você está lendo esta matéria.

A teoria hoje

No final de tudo Darwin não matou Deus. Sua teoria mostrou um novo ponto de vista que foi usado tanto para nos matar quanto para dizer que somos apenas um subproduto, um efeito colateral de uma “compra” excessiva de carbono feita pelo nosso universo apenas para ter mais descendentes do que os outros universos, mas estas duas teorias ainda não são comprovadas, como a de Darwin, mas estão sendo estudadas, como a teoria da evolução continua sendo. “O grande desafio do processo evolutivo é compreender como algumas estruturas morfológicas aparecem, desaparecem depois de milhões e reaparecem depois. Chamamos isso de evodevo, que é evolução mais desenvolvimento, junta-se genética, desenvolvimento embrionário para tentar entender como alguns momentos da evolução produz transformações muito grandes em um curto espaço de tempo. Queremos entender os processo que levam essa evolução e saber como éramos no passado para termos uma base para especular o que acontecerá no futuro”, finaliza professor Eliseu.

Se você não queria saber que sua existência não passa de um mero acaso do cosmos, saiba que Darwin também não queria, mas este é o preço do conhecimento e talvez esta seja a maior contribuição de Darwin a de que o que importa é sabermos para podermos ver que no fim todos viemos do mesmo ancestral, ou quem sabe do mesmo gene ou até do mesmo carbono e isso nos faz iguais.

publicado originalmente no Laboratório da Notícia (LONA)

A doença da ignorância

por Rikardo Santana da Silva

Após mais de 20 anos da descoberta do vírus da Aids muitas pessoas ainda não se sentem potenciais vítimas da doença. Apesar de toda a informação disponível, adolescentes pensam que a doença não irá atingi-los e acabam correndo riscos desnecessários. Isto foi objeto de estudo da psicóloga Ana Carolina Ribeiro em sua monografia. No decorrer desta matéria você começará a entender por que isso acontece.

“Olha, por mais que digam que não tem nada a ver, que você só pega transando ou pelo sangue... eu tenho um certo receio de aidético. Sei lá, me vem à cabeça aquela idéia de contaminação mesmo, de que a pessoa tem uma coisa de sujeira, sabe?” (E7, 23 anos, masculino, heterossexual).

Esta afirmação foi feita no ano de 2006, em uma série de entrevistas feitas pela psicóloga Ana Carolina Ribeiro, em seu trabalho de conclusão de curso em psicologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), a monografia “Percepção de risco de infecção por HIV/Aids entre jovens”. Assim como o entrevistado, cuja identidade não foi revelada, muitas pessoas ainda têm um pensamento equivocado e preconceituoso quanto à Aids ou aos portadores do vírus HIV.

No Brasil, segundo dados do Programa das Nações Unidas para a Aids (Unaids, na sigla em inglês), existem cerca de 620 mil pessoas vivendo com o vírus HIV . Ainda segundo a Unaids, cerca de 33,2 milhões de pessoas vivem com o vírus no mundo, sendo que 2,5 milhões têm menos de 15 anos, e 2,1 milhões de pessoas morreram de Aids no último ano.

Nesta monografia, Ana Carolina tentou mostrar qual era a percepção dos jovens quanto à prevenção e a contaminação pelo vírus HIV. “A pesquisa revelou que as pessoas têm acesso à informação, mas não se protegem, pois não se consideram em um grupo de risco”. Para confirmar sua hipótese, Ana Carolina entrevistou 12 jovens de 18 a 25 anos, 6 homens e 6 mulheres.

Ana Carolina mostrou, através de seu estudo, que apesar de as pessoas terem conhecimento de como a doença pode ser contraída, elas o ignoram e correm o risco. “A pesquisa foi bem ao encontro com aquilo que a literatura falava. A percepção de risco não está associada ao conhecimento sobre a doença. Muitas vezes se imagina que as pessoas não tem acesso à informação e por isso não se protegem. A pesquisa mostrou que, na verdade, as pessoas se sentem invulneráveis, principalmente em relação ao sentimento amoroso”, constata a autora.

Mas como em pleno século XXI, na era da informação, pessoas ainda tenham pensamentos tão errados em relação a um assunto tão amplamente divulgado? Ou pior ainda, por que pessoas que têm acesso a essa informação e sabem dos riscos que podem correr, ignoram totalmente esse conhecimento e se arriscam mesmo assim? Foi a essas perguntas que este trabalho tentou responder e que você irá entender agora.

Formação da identidade

O período da adolescência é uma época de transição da infância para a vida adulta. Mas o que isso significa? Segundo a pesquisa de Ana Carolina, o adolescente tenta se encontrar no mundo, pois como ele não é mais criança, não pode mais agir como tal, e a sociedade começa a lhe cobrar mais responsabilidades. Mas como ainda não são adultos, essa mesma sociedade trata-os como sendo ainda irresponsável.

Para conseguirem ser aceitos em um grupo, os adolescentes começam a fazer escolhas que os façam serem mais próximos de determinado grupo, e a sexualidade é uma dela. O sexo começa a tomar um papel fundamental na vida destes jovens. Com isso, o sexo começa a se tornar não apenas parte da reprodução ou da busca pelo prazer, mas também se torna um dos elementos da busca pela identidade que o jovem irá formar e, a partir daí, mesmo sabendo que haverá riscos, ele os ignora, pois acha que com ele não irá ocorrer. “A aceitação no grupo torna difícil a prevenção para estes jovens de 15 á 24 anos, pois nesta época eles têm a sensação de invulnerabilidade, de que nada irá acontecer com ele”, conta Ana Carolina.

O mesmo comportamento ocorre com relação à gravidez ou a dirigir bêbado. O jovem sente que nada irá lhe ocorrer e por isso não precisa se prevenir. Além disso, existe a questão da fidelidade. Quando o jovem conhece seu parceiro, ele pensa que não há problema em fazer sexo sem proteção, pois tem a certeza que a pessoa não tem aquela doença.

Com isso, Ana Carolina mostra que é necessário conhecer o pensamento destes jovens quanto à prevenção para que as campanhas de prevenção realmente os atinjam. No livro “AIDS in the World II”, Jonathan Mann e Daniel Tarantola explicam muito bem isso, dizendo que é necessário o conhecimento do público para o qual a idéia será veiculada. “Se os preservativos precisam ser promovidos com sucesso como uma estratégia global para diminuir o risco de infecção por HIV, as maiores barreiras à sua utilização precisam ser compreendidas.”

Além disso, é preciso compreender o pensamento deste jovens quando a questão é a sexualidade. Conforme Ana Carolina aponta o sexo passa a ter um novo significado, em que os riscos são encarados de maneira diferente. “Tudo que está inserido na esfera da sexualidade está inserido na esfera do desejo, e aí fica muito difícil situar certas coisas, como o risco, pois está além. O prazer também envolve certo risco” afirma.

Segundo o estudo de Ana Carolina, a principal barreira para que o jovem não use o preservativo é a preocupação com a diminuição do prazer e novamente a confiança em seu parceiro. Esta confiança se dá porque o parceiro sexual do jovem é seu conhecido, é alguém que freqüenta os mesmos lugares, que pertence ao mesmo grupo. Ou seja, a AIDS é uma doença do outro, que não existe em seu círculo social. Este pensamento é outro fator que influi na percepção dos jovens quanto à prevenção e contaminação por HIV.

A doença do outro

No início da epidemia de Aids, a doença foi tratada como uma doença dos homossexuais. Alguns anos depois, pessoas que dependiam de transfusões de sangue ou pessoas que usavam drogas injetáveis começaram a entrar no chamado “grupo de risco”. Ou seja, desde o início a Aids é tratada como uma doença de um determinado grupo social, que já era alvo do preconceito.

Com o passar dos anos, a epidemia do HIV começou a atingir pessoas que não estavam no grupo de risco, e aí a culpa passou a ser dos portadores do vírus, que eram irresponsáveis e por isso contraíram a doença, caracterizando ainda mais a idéia da doença do outro. Esse pensamento de que “comigo nunca irá acontecer” faz com que jovens se exponham aos riscos, pois tem certeza de que nada irá acontecer com ele.

As primeiras pessoas a serem enquadradas no “grupo de risco” foram os homossexuais. Por serem os primeiros, hoje o número de pessoas pertencentes a esse grupo que usam preservativos é maior que o de heterossexuais. Por atuar em uma organização não-governamental que trabalha com os direitos dos gays, lésbicas, bi-sexuais e transexuais, Ana Carolina percebeu que a percepção deste grupo social em relação ao HIV era diferente.

A criação deste “grupo de risco” fez com que as pessoas se despreocupassem com a doença, pois ela só acontecia com quem fazia parte daquele grupo. Este pensamento fez com que não houvesse o preocupação em se prevenir por parte de pessoas fora deste grupo, fazendo aumentar os casos de infecção.

Mesmo após vinte anos de estudos e divulgação sobre a doença, as pessoas ainda têm estereótipos criados sobre a doença, como o entrevistado do início da matéria, que pensa que o portador do vírus é sujo. Mas as entrevistas mostraram que nem todos são assim, como você pode perceber nas frases destacadas nesta reportagem.

Outra questão a ser levantada a respeito da doença do outro é sobre a fidelidade. Quando o jovem conhece a pessoa, ele simplesmente não acha necessário o uso de preservativo, pois confia nela. Quanto a isso também existe uma diferença quanto a gênero. Segundo a monografia de Ana Carolina, enquanto o homem, em sua construção social de identidade é visto, sexualmente falando, como independente, viril, conquistador, forte e seguro, a mulher é tida como carinhosa, sensual e sedutora, mas tomando cuidado para que esse comportamento não seja muito explícito e a faça parecer vulgar.

Neste ponto aparece mais uma resposta às perguntas propostas: a vulnerabilidade feminina. Por não poder expor sua sexualidade, pois será taxada de vulgar, a mulher acaba sendo subjugada pelo homem. A construção do que é ser homem é associada a idéia de gostar do sexo, enquanto á mulher cabe o papel de ser mãe e esposa fiel. Mas como isso influi na percepção de risco?

Vulnerabilidade feminina

A camisinha, método mais eficaz de prevenção da Aids, é de uso masculino. Este fato faz com que a mulher seja “refém” da vontade do homem em usar este método de prevenção sendo necessária uma negociação para que o homem use. E quando é proposto o uso para o homem, ele se sente ofendido pela mulher não confiar nele, ou acha que a parceira é promiscua.

Como já foi dito antes, os grupos de riscos para se contrair o HIV eram bem claros: Homens gays ou mulheres prostitutas. Esta certeza, fez com que as mulheres não se enxergassem como potencial vítima da doença, a não ser que fosse garota de programa ou que seu marido a traísse e não usasse camisinha. “A mulher por ‘n’ fatores está mais vulnerável ao vírus principalmente por não se sentir nesse grupo de risco” conta Ana Carolina.

Mas, o vírus chegou às mulheres e a partir daí o número de infectadas só aumentou. Para se ter uma idéia, de acordo com os dados da Monitoraids, ligado ao Programa Nacional de DST e Aids do Governo Federal, de 1980 a 1995, foram notificados mais de 21 mil casos de HIV em mulheres, ou seja, cerca de 1401 por ano. Só em 2005, foram mais de 14 mil notificações, quase 11 vezes mais. Apesar de o número de homens com o vírus ter aumentado de 1996 até 2005, se formos comparar com o mesmo período, veremos que o aumento feminino foi maior. Ainda segundo o Monitoraids, de 1980 á 1995, mais de 85 mil homens foram diagnosticados como portadores do vírus, cerca de 5673 por ano, enquanto que em 2005 foram mais de 20 mil, “apenas” cerca de 4 vezes mais. Apesar disso, o número de casos nos últimos anos vem caindo, tanto para homens quanto para mulheres, mas este crescimento mostra que as mulheres passaram a ser também vítimas da epidemia.

Por que o número de mulheres com HIV aumentou tanto durante os anos, em comparação ao número de homens? A resposta pode estar justamente nessa vulnerabilidade que na adolescência, ao se juntar com a construção da identidade e com o estereótipo d e “doença do outro”, faz com que a mulher se exponha mais ao risco, por confiar demais no parceiro ou por achar que o uso do preservativo depende da vontade do homem.

A autora ainda mostra que as políticas públicas que atendem a mulher na questão sexual, tratam-na ou como uma mulher promíscua ou como uma mãe de família, mas nunca como alguém que simplesmente quer fazer sexo. “É preciso enxergar o papel sexual da mulher e dar opções de prevenção que estejam sob seu controle” afirma Ana Carolina. Esse tratamento dado à mulher, faz com que ela não se sinta parte do “grupo de risco” ao menos que ela seja uma prostituta, fazendo com que não se sinta ameaçada.

Qual é a saída?


Talvez o que melhor defina o trabalho feito pela autora seja o fato de que as pessoas ignoram o que sabem sobre HIV em detrimento de outras escolhas. O estudo mostrou que apesar de os jovens conhecerem os modos de transmissão da Aids e saberem que o sexo é uma das formas de contaminação, eles ignoram esse conhecimento. Isto faz com que os jovens, como foi descrito na monografia, que já se acham invulneráveis por natureza, não se protejam por achar que nada irá acontecer com eles.

Fazer com que as escolas ensinem a educação sexual de uma maneira séria, abordando o tema da forma como os adolescentes entendem a questão, dar á mulher a opção de prevenção própria e mostrar que o HIV não é uma “doença do outro”, mas que está presente em todos os meios pode ser uma saída para a questão abordada no estudo.

O conhecimento é essencial para saber que a Aids não se transmite ao se beijar ou ao tomar líquidos no mesmo copo que um portador do HIV, mas que é sim transmitido por via sexual, e que a prevenção é o melhor remédio. Além disso, é preciso fazer com que a sexualidade deixe de ser um tabu, pois como a autora mesmo diz, a grande dificuldade do trabalho foi achar os entrevistados. “Foi muito difícil encontrar pessoas dispostas a falar sobre isso, mesmo sendo depoimentos anônimos. Senti uma dificuldade maior em falar com os homens”, relata Ana.

Os homossexuais, como já foi dito, por terem medo de contraírem Aids, são o grupo que mais se previne contra o vírus. As demais pessoas ainda não têm esse medo como algo concreto e por isso não se sentem ameaçadas, mas Ana Carolina acredita que a fase do medo já passou. “Acho que agora é importante conscientizar da importância prevenção e de educar os jovens sexualmente”. Mas, como Shakespeare, citado pela própria autora, disse “a melhor segurança repousa no medo.”

O Paraná é rural

por Rikardo Santana da Silva

Censo demográfico de 2000 mostrou um Paraná mais urbano, mas uma análise mais profunda dos fatos mostra outra coisa.

Segundo o censo demográfico de 2000, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 80% do Paraná é urbano. Mas o que os dados não mostram é que na verdade mais de 60% do território paranaense é ocupado por regiões rurais e que cada cidade e cada região têm níveis diferentes de urbanização. Essa ambigüidade levou Anael Pinheiro a desenvolver em sua dissertação de mestrado em Sociologia, pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), um estudo mais profundo desses dados, levando-se em conta a geografia paranaense.

Por ter nascido no interior do estado (em Paranacity), Pinheiro conviveu diretamente com esse meio rural. “Eu convivia com a agricultura patronal, que era desenvolvida na região Norte do estado. A partir do momento em que saí da minha região comecei a perceber que existiam diferenças na agricultura de outras regiões do estado, então eu quis aprofundar para saber até onde iriam essas diferenças”, conta.

As diferenças ficam bem evidentes quando se olha o mapa do estado. Enquanto a região Norte tem uma agricultura patronal, ou seja, grandes propriedades de terra com empregados, a região Sul do estado tem predominância da agricultura familiar. Nos mapas da região Norte é dado uma importância maior para a demarcação de terras e de cultivos. Já os mapas da região sul destacam onde estão localizadas as comunidades, onde moram as pessoas nas áreas rurais. Mas o que isso mostra? Que o Paraná não é um só, e que são necessárias políticas públicas específicas para cada região.

Os dados fornecidos pelo IBGE revelam apenas que a população paranaense está vivendo mais nas cidades que no campo, mas não mostra que o território paranaense é amplamente ocupado pela área rural. Nem mesmo a questão da população é definitiva. Não existe uma definição técnica para diferenciar área rural de urbana. As Câmaras Municipais definem, e de acordo com um decreto de 1938, uma cidade com 20 mil habitantes já pode ser considerar urbana.

O que o Pinheiro fez foi usar outros quesitos para definir o que seria a população rural, não levando em conta apenas o número de habitantes, mas também a densidade demográfica e a ocupação da população, onde as pessoas trabalham. Os resultados mostraram que, por exemplo, a mesorregião Metropolitana de Curitiba tem alta taxa de ruralização, ao contrário do que se pensa ao olhar os dados do IBGE. Cerca de 56% dos municípios podem ser classificados como rurais.

O estudo apontou que nem sempre se pode levar como verdade absoluta os dados oferecidos pelos institutos, pois é preciso levar em conta o aspecto regional. “É necessário se fazer uma análise mais profunda dos dados, mostrar o que cada região tem de diferente para podermos pensar em políticas públicas específicas para cada localidade. O Paraná não é um estado homogêneo. É importante mostrar as diferenças resultantes dos processos de ocupação”, constata Pinheiro.

O que o autor fez em sua dissertação foi analisar esses dados juntando a sociologia com a geografia. O uso desses diferentes campos, unido a uma análise profunda dos dados, revelou que a população rural, apesar de ser pequena precisa ser levada em conta. “Hoje em dia, só se noticia que o rural está diminuindo, que o rural está acabando, mas essa população ainda existe. Os dados são mostrados como se fosse o fim do meio rural, mas no Paraná mais de dois milhões de pessoas estão vivendo nessas áreas, e elas precisam ser atendidas”, finaliza Pinheiro.


Novas Postagens

Após mais de um ano sem postar nada no blog por motivos nobres (leia-se: preguiça), volto a publicar aqui minhas idéias e alguns dos meus trabalhos, agora como jornalista formado, apesar de isso não valer mais nada (alias, acho que vou virar cozinheiro). Começo publicando algumas matérias que fiz para o meu trabalho de conclusão de curso, uma revista de divulgação científica. Não reparem, mas algumas matérias podem conter indicações de páginas de onde estariam tabelas e outros elementos gráficos (já que era uma revista) que eu não tirei pelo mesmo motivo nobre acima citado. Enfim, espero que gostem e fiquem informados e, por favor, divulguem, lembrem-se: é "Kuritiba com K"!

Direto de Kuritiba: Ciência, cultura e muito mais, não necessariamente nessa ordem