terça-feira, 14 de julho de 2009

O Paraná é rural

por Rikardo Santana da Silva

Censo demográfico de 2000 mostrou um Paraná mais urbano, mas uma análise mais profunda dos fatos mostra outra coisa.

Segundo o censo demográfico de 2000, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 80% do Paraná é urbano. Mas o que os dados não mostram é que na verdade mais de 60% do território paranaense é ocupado por regiões rurais e que cada cidade e cada região têm níveis diferentes de urbanização. Essa ambigüidade levou Anael Pinheiro a desenvolver em sua dissertação de mestrado em Sociologia, pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), um estudo mais profundo desses dados, levando-se em conta a geografia paranaense.

Por ter nascido no interior do estado (em Paranacity), Pinheiro conviveu diretamente com esse meio rural. “Eu convivia com a agricultura patronal, que era desenvolvida na região Norte do estado. A partir do momento em que saí da minha região comecei a perceber que existiam diferenças na agricultura de outras regiões do estado, então eu quis aprofundar para saber até onde iriam essas diferenças”, conta.

As diferenças ficam bem evidentes quando se olha o mapa do estado. Enquanto a região Norte tem uma agricultura patronal, ou seja, grandes propriedades de terra com empregados, a região Sul do estado tem predominância da agricultura familiar. Nos mapas da região Norte é dado uma importância maior para a demarcação de terras e de cultivos. Já os mapas da região sul destacam onde estão localizadas as comunidades, onde moram as pessoas nas áreas rurais. Mas o que isso mostra? Que o Paraná não é um só, e que são necessárias políticas públicas específicas para cada região.

Os dados fornecidos pelo IBGE revelam apenas que a população paranaense está vivendo mais nas cidades que no campo, mas não mostra que o território paranaense é amplamente ocupado pela área rural. Nem mesmo a questão da população é definitiva. Não existe uma definição técnica para diferenciar área rural de urbana. As Câmaras Municipais definem, e de acordo com um decreto de 1938, uma cidade com 20 mil habitantes já pode ser considerar urbana.

O que o Pinheiro fez foi usar outros quesitos para definir o que seria a população rural, não levando em conta apenas o número de habitantes, mas também a densidade demográfica e a ocupação da população, onde as pessoas trabalham. Os resultados mostraram que, por exemplo, a mesorregião Metropolitana de Curitiba tem alta taxa de ruralização, ao contrário do que se pensa ao olhar os dados do IBGE. Cerca de 56% dos municípios podem ser classificados como rurais.

O estudo apontou que nem sempre se pode levar como verdade absoluta os dados oferecidos pelos institutos, pois é preciso levar em conta o aspecto regional. “É necessário se fazer uma análise mais profunda dos dados, mostrar o que cada região tem de diferente para podermos pensar em políticas públicas específicas para cada localidade. O Paraná não é um estado homogêneo. É importante mostrar as diferenças resultantes dos processos de ocupação”, constata Pinheiro.

O que o autor fez em sua dissertação foi analisar esses dados juntando a sociologia com a geografia. O uso desses diferentes campos, unido a uma análise profunda dos dados, revelou que a população rural, apesar de ser pequena precisa ser levada em conta. “Hoje em dia, só se noticia que o rural está diminuindo, que o rural está acabando, mas essa população ainda existe. Os dados são mostrados como se fosse o fim do meio rural, mas no Paraná mais de dois milhões de pessoas estão vivendo nessas áreas, e elas precisam ser atendidas”, finaliza Pinheiro.


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