quinta-feira, 16 de julho de 2009

“Eu não consigo ficar satisfeito”

No final de tudo, é apenas mais um tijolo no muro

por Rikardo Santana da Silva

Na loja on-line da Apple está sendo vendido o programa “I am rich” (Eu sou rico), para o iPhone. O programa não tem nenhuma utilidade, apenas coloca um rubi no visor do celular e custa cerca de mil dólares. Em 1979 a banda britânica Pink Floyd lançou o álbum “The Wall”, que teve como música mais conhecida “Another Brick in The Wall pt.2”. A idéia do álbum veio do contra-baixista Roger Waters, ao perceber que as pessoas vinham aos seus shows não para ouvirem a música mas sim para beber e brigar, criando assim um muro entre eles. O álbum acabou virando um filme, “The Wall”, com direção de Alan Park. Mas o que Pink Floyd tem a ver com o iPhone?

Na verdade, não é sobre a relação de Pink Floyd e iPhone que esta matéria irá tratar, mas sim da relação entre consumo e construção de muro. Esse foi o tema de um trabalho de conclusão de curso de publicidade e propaganda da Universidade Positivo. Por ter uma interpretação diferente do filme foi que o estudante Diego Zerwes teve a idéia de fazer, junto com seus colegas de curso Camila Lopes, Renãn Araujo, Rodrigo Costa e Tatiane Kamikawa, uma análise do filme com base na psicologia: a monografia “A construção do muro da publicidade no filme The Wall, do Pink Floyd”.

Apesar de o filme não mostrar claramente marcas ou o personagem principal (Pink) consumindo, a questão do consumo é tratada no filme de maneira subjetiva. “Para fugir do muro criado pela mãe dele, Pink acaba criando um segundo muro, que o liberta, inconscientemente. Esse muro é o muro do consumo” conta Zerwea, um dos autores da monografia.

A partir da análise do filme, o trabalho discorre sobre o consumo, o por que consumimos e como a publicidade age nesse consumo. De acordo com os autores pesquisados no trabalho, o consumo é algo inerente ao ser humano, pois competimos uns com os outros e também queremos satisfação pessoal. “No filme Pink não aparece consumindo, mas em trechos da música fica evidente isso, como quando ele pergunta 'devo comprar uma guitarra nova?' Quer dizer que ele tinha uma guitarra”, constata Zerwes.

Segundo o estudo, a publicidade não tem papel tão forte na construção do consumo como é posto por muitos, pois ela apenas potencializa algo que já é natural no ser humano. “A publicidade é responsável por divulgar marcas e produtos. Dentro do modo de produção de massa, existem produtos, e as empresas querem vender e vender mais do que as outras. A publicidade apenas mostra esses produtos”, analisa Zerwes. Além disso o próprio consumo gera mais consumo, e como na música dos Rolling Stones, que também é título desta matéria e é usada no trabalho, as pessoas não conseguem ficar satisfeitas.

Na análise, o consumo também é tratado como um modo de identificação, como um diferenciador de grupo, como o pessoal que compra o “I am rich”. Além desta contribuição, de uma análise de caso sobre o consumo, o trabalho também mostra que é possível fazer não apenas análises de livros, mas sim de todo o tipo de manifestação cultural. “Como muita gente analisa diversas obras literárias, acho que é interessante também falar sobre outras formas de arte”, finaliza Diego. Então se você deseja falar sobre outras formas de arte ou cultura não tenha medo, pois, como Hobbes dizia, “o homem que vive deseja”.

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